O BULLYNG x GESTÃO

O BULLYNG X GESTÃO

Sou assim pobre, mas em criança era muito mais, que já tão cedo eu corria atrás,vendendo meus picolés a um Cruzeiro, na época de tal moeda. E eu gritava: ""Olha o picolé! ao que os outros meninos diziam: Água pura ninguém qué!".Mas eu seguia meu destino.Que muitos gostavam de permanecer naquela esquina só zoado a vida dos outros que passavam. Quando eu chegava com minha caixinha de isopor já vazia, eu e minha mãe costumávamos contar aquelas poucas mas muitas moedas que a faziam sorrir como se eu tivesse trazido da rua um imenso tesouro.Um belo dia cheguei de mãos abanando e chorando entristecido, sem moedas e sem isopor.Mamãe me consolou, mas não esqueci que quebraram aquela bela e inesquecível ferramenta de trabalho.Eu sempre quiz ter um desses irmãos protetores, mas só tinha (ainda tenho) irmãs que me diziam o que eu não gostava de ouvir e faziam-me dengos, talvez no fundo eu detestasse aquilo, que me tornava um tanto digamos afeminado. Mas,vejam bem, já comecei cedo a sofrer as primeiras experiências, sem saber, do tão conhecido bullyng de hoje em dia mas, a mais marcante ocorreu quando eu estava no antigo ensino primário, na Escola Estadual Coryntho da Fonseca em realengo, onde hoje meu neto estuda,vejam só como este mundo é pequeno. Eu nunca tive seguranças a minha volta.Tão pobre que eu era, entretanto tinha um anjo da guarda, minha mãe e também minha família. Existiam naquela época dois irmãos gêmeos que só viviam bulinando e zoando a turma. Um dia um deles cismou com minha cara e se aproximou de mim e, como eu sempre fui um menino muito ingênuo, coloquei o rosto bem perto do dele tentando encará-lo.Foi quando eu levei minha primeira cabeçada no nariz. Daí em diante eu passei a temê-lo mas não a respeitá-lo, não falei em casa, nem com ninguém, apenas guardei para mim. Mas havia também um outro que se achava o "bambambam" que sempre vinha me esperando do lado de fora da escola. Naqueles dias havia aquilo de se dizer: vou te pegar lá fora....lá fora eu vou te encher de porradas.Mas o nosso caso era diferente, eu acho que ele me via como um mariquinhas ou algo assim, eu era um menino bonito, estudioso,e que tentava falar bem as palavras,com uma certa educação até, o que talvez o fizesse pensar que eu fosse delicado demais, mas e daí se eu fosse, o problema não era meu? Pois bem, ele sempre estava lá e escolhia quando eu saia se era a orelha esquerda ou a da direita que ele iria dar os tapas, ou a cabeça. Daquele dia em diante minha mãe começou a ir me esperar, que eu tinha apenas nove anos e já me achava um homem, mas aceitei sua companhia e proteção.Acredito até que minhas baixas notas nas expressões de matemática se devessem a esse "assédio" marginal. Mas teve um dia, que mamãe precisou faltar e na hora da saída, quando eu olhei,já cheio de pavor, lá estava ele. Eu nunca fui um São Jorge, e o respeito,mas fui obrigado ao sair, a enfrentar aquele "Dragão", que tanto me aterrorizava.Não usei nenhuma lança,mas de um forte pedaço de pau e com uma pancada certeira eu simplesmente quebrei o braço do menino "Dragão" , meu invísível inimigo,que se apoderava de minhas forças,minando minhas mais inesperadas e impensáveis energias. Daquele dia em diante,ele, hoje homem feito e amigo meu,passou a me temer, mas hoje a me respeitar, acredito que ficaram boas recordações daquele pequeno momento, tão significativo e repleto de boas lições para nós dois.Quando eu passo por ele, ele não enxerga mais o medroso Carlinhos, mas sim o destemido Antonio Carlos. E quando me cumprimenta ele sorri e diz: Bom dia! Antonio Carlos.

Espero que esta simples e suburbana estória possa somar na vida de muitos pais,professores e alunos, afinal de contas esses fatos talvez insignificantes para muitos não ocorrem' só aqui na periferia da zona oeste, eles se espalham pelos vários continentes do planeta terra; não vai ser eu o divisor de águas nesse mar de complexidades que envolve a vida estudantil, mas quem sabe, sem querer parecer aquele cara que acredita que tudo pode melhorar e sempre vê uma luz no fim do túnel, tenho comigo a certeza de que mesmo parecendo que o mal está a espreita, sempre vencerá o bem.

Acredito que aconteçam hoje em dia na calada das horas matinais, vespertinas ou noturnas horas ,por detrás das cortinas e retinas ofuscadas e indiferentes de nossos olhos, muitas cenas piores que estas contadas por mim e vivenciadas por crianças e adolescentes, que violentados não conseguem dormir e se dormem choram por sobre seus travesseiros, seus maiores e melhores conselheiros, por terem pais ausentes ou sem horas e tempos, ou avós cansados e famílias indiferentes, nesses dias bem mais violentos, bem mais que nos meus velhos mas não tão distantes tempos, porque para mim parece que foi ontem. Naquele tempo não havia esse instrumento de comunicação chamado internet e muito menos o importante policiamento fixo ou móvel, como os que ocorrerão agora, de hoje em diante, que tentarão como "anjos da guarda" minimizar algumas dessas ou de outras tais situações, sem que seja preciso puxar uma arma ou mesmo empunhar um pedaço de pau para conseguir o respeito, resguardando a integridade, a identidade e a própria sobrevivência. Mas, quem no mundo não tem uma estória mais ou menos parecida?

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 02/05/2012
Reeditado em 26/02/2015
Código do texto: T3645007
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