O mutirão

Pelo escabroso caminho, onde o sol escaldante as fibras retorciam, dentre as chochas pairavam uma tristeza singela que nos arremetia uma angustia profunda. Avistamos uns meninos a correr com um certo espanto que nos trouxe a lembrança de nossa saudosa infância. Descalços e quase desnudos, com seus lábios carnudos corriam em direção de cancela. Pareciam querer delatar um acontecimento profícuo aos seus genitores. De fato. Dentro de alguns instantes o pequeno arraial pareceu ser um formigueiro. Pasmados ficamos, quando avistamos uma pequena multidão que saía das humildes habitações. Em pouco tempo formou-se um batalhão.

Eram os parceleiros que vinham em nossa direção, cada um em sua condução. Uns com facão, outros com foice e arpão, a pé ou a cavalo com um menino na cabeça do arreio e outro na garupa do animal ou de monark com a companheira no banco traseiro de lado com um bebê no colo.

Para a nova empreitada, junto com as enxadas, um desejo ardente que podia ser visto em seus rostos fitos de quem sempre lutou em busca de uma melhora e agora só restaria neste dia uma promessa para suas peripécias.

Achegaram-se, cada um com sua suspeita. Apiaram de suas conduções e ressabiados abeiraram o sinistro casarão, onde esperávamos ansiosos. Sem perceber em nossa prosa, começaram a sorrir com desconfiança e no meio da conversa se desarmaram por completo. E com presteza desempenhamos nossa função, e foi assim que realizamos o mutirão.

Rogério Alves de Carvalho
Enviado por Rogério Alves de Carvalho em 30/01/2007
Código do texto: T364218
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