CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XVIII – Catolé do Rocha (PB)
 

CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XVIII – Catolé do Rocha (PB) – 23.04.2012
 

          
         Cumprida sua missão de maneira exitosa na cidade de Bacabal (MA) – mas ainda voltaremos a essa agência -, eis que no exato dia do nascimento de seu filho George, em 11.03.1973, com receio da “malária” e   
le viajara à Brasília, a fim de falar pessoalmente com o diretor de pessoal do Banco do Brasil, Dr. Admon Ganem, a respeito de sua remoção para uma das agências de Pernambuco, principalmente do grande Recife. Mas sabiamente o nosso chefe colocou um “verde e colheu um maduro”. Falou que não havia vaga na região sugerida, mas que o gerente da agência de Catolé do Rocha, na Paraíba, estava sendo desligado para João Pessoa, capital do Estado. Sem argumento foi o jeito concordar. Fora nomeado na hora. A transferência também visava a que pudesse sua filha Úrsula, uma lindeza de criatura, conviver com a família.

            Como estava em Brasília, na Direção Geral, resolveu tomar ciência de como era a nova agência, seus negócios, situação de pessoal, problemas de operações anormais, pendências na área de inspeção, enfim de tudo o que um administrador deva ter conhecimento, a fim de que o seu trabalho pudesse ser planejado e melhor executado. As notícias eram de desanimar. A filial estava com problemas até maiores do que os que foram encontrados no Maranhão, mais de oitenta por cento de operações irregulares, quadro de pessoal incompatível, inchado, nada de captação, e deficitária. Mas que presente! Dissera-lhe o diretor que em breve as coisas melhorariam e que estava acompanhando a sua atuação.

            Pois bem, feita a despedida festiva de Bacabal, rumara com a sua família, agora com cinco filhos, o George no colo ainda, recém-nascido, para assumir o quanto antes a sua nova missão, pois já pensava em resultados positivos ainda no primeiro semestre daquele ano. A caminhada era longa, a cidade ficava a uns 520 quilômetros do Recife, onde morava a base de sua família. O asfalto já predominava, mas havia um percurso de mais ou menos 60 km que era de amargar, estrada de barro, ruim, ainda mais com o início das chuvas, atoleiro por toda a parte, que o fusquinha ia vencendo com sua costumeira “raça”. Até que chegara num ponto em que não havia mais como prosseguir, tivemos de passar a noite dentro do carro com muito medo. Não houve problemas, pela manhã um trator começou a desatolar os veículos que estavam praticamente com os pneus cobertos de lama.

            Cidade do sertão paraibano, tradicional no cultivo de lavouras de subsistência, principalmente, milho, feijão e mandioca, mas também o algodão; pecuária de carne e leite, também sustentada pela palma forrageira, sempre castigada pelas secas que  eram comuns no nordeste, contava com duas indústrias de beneficiamento primário de algodão, uma totalmente paralisada, que era da família Maia e outra em funcionamento precário, da família Dantas. É que com as dificuldades de venda do algodão em pluma que produziam, em face dos preços, viram-se praticamente obrigadas a vender quase toda a produção a uma empresa do Rio de Janeiro, a Cia Carioca Industrial, que atrasara o pagamento das duplicatas emitidas, tendo entrado em concordata, o que limitaria seus juros a no máximo doze por cento ao ano. Algumas firmas usavam até como artifício pedir concordata. E por tabela as vendedoras do produto ficaram inadimplentes no banco, com suas responsabilidades vencidas, sem condições de operar. No desconto de títulos os envolvidos ficam amarrados às operações, quer os sacados, sacadores e avalistas.

          Também existiam na jurisdição da agência pequenas fábricas de redes, nos fundos de quintais, que usavam teares antigos, alguns movidos com os pés. A arte do bordado era bem praticada, e de lá saiam lindos trabalhos manuais de hábeis artesãs. Em resumo Catolé do Rocha era mais ou menos assim, poucas opções de lazer, mas dispunha de boas escolas, hospitais, pequenos times de futebol, uma AABB – Associação Atlética Banco do Brasil. O prédio da agência era precário, sem as mínimas condições de crescer, mas já havia planos de o banco construir uma dependência mais consentânea com o movimento que dela se esperava.

          O Nobre na verdade nem sabia por onde começar, mas  agiu rapidamente. Chegou sem festa, até falaram que o Prefeito José Sérgio Maia, da ARENA, gostaria de fazer uma recepção. Primeira providência: reunião com o funcionalismo para se apresentar e dizer de sua maneira de administrar. Perguntou quais os funcionários que haviam pedido transferência para Campina Grande e João Pessoa, porque iria interferir junto à Sede para que concedesse tais remoções no menor espaço de tempo possível. Foi uma festa de contentamento. Que cara “porreta” diziam alguns. Não deu outra, fora atendido, o quadro ficou reduzido em doze, e esses puderam continuar seus estudos, suas faculdades. Naquele tempo era proibido pedir redução de quadro para possibilitar lucro, o patrão não aceitava, mas o Nobre não estava “com a gota serena” pra falar que esse era o motivo.

          Naqueles tempos dizia-se que o gerente era o responsável pelos empréstimos, enquanto que ao subgerente cabia a administração do pessoal e da contabilidade. O Fernandes era um bom companheiro, tranquilo, educado, respeitado, sua maior arma era a humildade e simplicidade. Seu apoio foi primordial na condução da agência. Muito dedicado aos trabalhos. Formava um belo casal com as esposa.


Fico por aqui, até a próxima.

Pena que as fotos antigas de Catolé estejam nas mãos de pessoas que só desejam obter lucro com o que não lhes pertence, tal de direito autoral com a paisagem do povo, que é o verdadeiro dono. A foto acima é do grande prefeito José Sérgio Maia. que sempre fora amigo do Banco do Brasil.

 
Em revisão.
Ansilgus





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

ansilgus
Enviado por ansilgus em 25/04/2012
Reeditado em 29/04/2012
Código do texto: T3632538
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