RELAÇÃO FATAL
RELAÇÃO FATAL
Isabel C S Vargas
Floriano considerava-se uma pessoa afortunada. Conseguira muitas bênçãos na vida. Assim ele se referia às realizações pessoais-afetivas ou profissionais. Nascera em família humilde com muitos filhos e firmes orientações sobre dever, honra, dignidade e respeito. Foi sobre estes pilares que alicerçou sua vida. Casou, teve filhos, educou-os com os mesmos preceitos que lhe foram passados pelos pais.
Era construtor. Orgulhava-se de sua profissão. Com as sólidas bases que edificou sua trajetória de vida também erguia as casas que para ele significam mais do que uma simples moradia, mas a materialização dos sonhos de muitas pessoas, em cujos espaços eram fortificados laços de amor, respeito, solidariedade. Lares onde desejava que as pessoas fossem felizes.
Ele mesmo erguera o seu onde foi possível ver os filhos crescerem com saúde, tornarem-se adultos. Orgulhava-se dos filhos e das profissões escolhidas. As duas filhas professoras, o filho, advogado.
Aos sessenta anos ficara viúvo. Um câncer roubou-lhe a esposa deixando só, após um período de intenso sofrimento. Acreditava que sua vida havia chegado ao fim, que seu ciclo estava completo e nenhuma novidade aconteceria. Com essa convicção seguia sua rotina diária, e como era muito religioso, sempre agradecendo pela vida e por tudo que havia conquistado e até pelos maus momentos, ciente de que a vida apresenta diversas facetas .
Próximo de completar 70 anos conheceu uma pessoa. Uma mulher de 40 anos, solteira. Não lhe havia passado na cabeça a idéia de tornar a casar-se. Com o incentivo de familiares foi procurá-la e em menos de um ano estavam casados No civil e no religioso. Senta-se revigorado. Passou a interessar-se pela vida. Viajavam, tiravam férias no Uruguai a cada final de ano. Visitavam sua filha que morava em outra cidade, passavam temporadas fora de casa.
Passara a ter medo da rotina.
Sentia-se feliz. Todos haviam aprovado sua decisão. Tinham uma relação familiar sólida.
Para ela, que já se julgava condenada à solidão para o resto de sua vida, encontrá-lo tinha sido uma grande sorte. Podia desfrutar de prazeres que sua condição financeira na permitia, pois trabalhava como balconista para sustentar a si e a mãe velha e doente.
Viveram juntos por dez anos. Ela ficou viúva aos cinqüenta, quando o coração octogenário de Floriano não resistiu ao esforço de uma noite de amor.
Ele morreu feliz, ela viveu o resto de sua vida lamentando a falta dele..