Eu, o monstro

Eu, o monstro

Nunca entendi muito bem o que as pessoas enxergam como beleza. Elas, as pessoas, parecem ter dividido o mundo em dois únicos conceitos: bonito e feio.

Meu nome é Julio, e desde cedo fui um garoto como outro qualquer, jogava bola na rua, empinava pipa e corria para se esconder enquanto alguém contava de 1 á 10 no muro da esquina. Não fui de ter muitas amizades, pois o pouco que tinha já me bastava, eram bons amigos. Na escola, era aquele tipo de garoto tímido, de cabeça baixa, falando somente o necessário. Vez e outra, escutava cochichos atrás de mim por onde passava, então não demorou muito pra eu saber que beleza não era meu forte até porquê, não somos nós que decidimos isso, são aqueles que gostam de nos rotular e, infelizmente, muitos aceitam e acreditam nisso.

As meninas me olhavam estranho, como se olhassem para algo que nunca tinham visto antes. Na segunda série do colegial, ganhei um apelido de um garoto mal encarado, daqueles que sentam no fundo da sala, que gostam de machucar as pessoas. Ele gritava:

- Monstrinho, baixa a cabeça ai cara, não estou conseguindo ver o que está no quadro – seguido de uma risada.

E toda a sala ria junto com ele, em uma só algazarra, e eu nada podendo fazer, apenas baixava a cabeça com a timidez cada vez mais me consumindo. Ás vezes chegava em casa chorando. Minha mãe já não sabia mais o que fazer de tanto ir na escola falar sobre o assunto e sempre ouvir a mesma resposta da professora : - Irei falar com ele amanhã !

Diziam que não era pra eu ligar para essas brincadeiras, que eles só queriam me deixar chateado. O problema é que, existia uma grande diferença entre ser um aluno bolsista (no caso era eu), e ser um aluno da mulher família da escola, uma daquelas famílias com boas condições que pagam para seus filhos estudarem em um bom colégio, sem se importar se eles querem aprender ou não, essa era a diferença. Na sétima série o apelido evoluiu, agora me chamavam de “Julio, o menino monstro”, e cada vez mais isso se tornava “normal”, levando em conta que nem mesmo as professoras ligavam quando zombavam de mim na frente delas.

Anos passaram, anos difíceis que suportei chacotas, brincadeiras pesadas e zombação dos “colegas” de classe. Nunca fui uma pessoa de ficar discutindo com ninguém, nunca fui de brigar em porta de escola, longe de mim gostar de violência, pois sempre tive a plena consciência que isso não leva á nada. Ao invés disso, dessas criticas eu tirei proveito e cada vez mais estava decidido a tentar entender o que se passa na cabeça, na mente do ser humano, ser um psicólogo.

Hoje, formado e Doutor em psicologia, sei o quanto tive sorte de ter tido sempre minha cabeça no lugar, sempre ter mantido o controle diante aquele tipo de situação e fico feliz por ajudar pessoas que vem até mim com esse tipo de problema, situação que aprendi a lhe dar não só na vida acadêmica mas na vida pessoal também. Analisando melhor, acho que os papeis estavam invertidos, daí surge uma curiosa duvida:

-Quem era realmente o monstro ?

Eu, o garoto que apenas queria ser como outro qualquer, ou pessoas de má personalidade que sentiam prazer em machucar, zombar e fazer chacotas sem se preocupar com sentimentos alheios ? Seria realmente eu o monstro ?

Alex Costa
Enviado por Alex Costa em 13/04/2012
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