A ENTREVISTA

A ENTREVISTA

- Despeça-o! – ordenou Ariomar.

- Qual o motivo? – perguntou Olavo.

- É que eu quero e pronto! Ou vai querer ir junto? – retrucou o chefe. E é você que fará isso.

- Eu?

- Sim, você mesmo! O motivo é negligência, incompetência! – e confirmou a ordem.

Olavo pensou: “Fernando, como tem cargo importante junto à gerência e vinha mantendo um processo de negociação junto à firma Albatroz, bem conduzido aliás, de repente tudo dá para trás... Foi depois que Ariomar assumiu, por conta o negócio. Não queria que ninguém mais...Será que...”. Fugindo das divagações voltou ao que precisava fazer.

Chegando a sala de Fernando, cumprimentou-o e disse:

- Fernando, preciso lhe falar. – disse Olavo.

- Pode dizer, Olavo. Estou à sua disposição. – respondeu Fernando.

- É muito duro para mim mas você está dispensado dos seus serviços.Pode passar no RH e acertar tudo! – foi como tivesse dando uma facada nas costas do amigo.

- Você sabe o que está dizendo, Olavo? São vinte anos dedicados a esta empresa e pensa que é fácil aceitar isso de uma hora para outra? Tenho família e meu filho está para nascer. Pense bem.

- Não é fácil para mim. Tudo é culpa daquela história da negociação com a Albatroz ter dado errado. – forçou Olavo para ver o que Fernando diria.

- Você sabe muito bem que tudo estava correndo muito bem, a negociação estava praticamente fechada. O Ariomar assumiu e de repente.... tudo mudou. Você acha que eu tenho culpa? – perguntou Fernando.

- Eu tenho pensado a mesma coisa. Tudo está mudado depois que...

Não consegui terminar, pois Ariomar entrou na sala e disse:

- Já deu a notícia para seu amigo? Ou quer que eu dê?

Fernando, revoltado respondeu antes de Olavo:

- Não precisa falar. O recado já foi dado. Passe bem seu Ariomar.

O processo ia ter de começar novamente. Estabelecer contato com a rede de conhecidos, procurar uma nova chance. Sua esposa Isabel, professora, estava grávida e aguardando resultado de um concurso para magistério. Não sabia o que iria fazer. Era aguardar os acontecimentos e batalhar por um novo emprego. Mas sabia que não seria fácil.

Apesar de distante acompanhava os acontecimentos na empresa a que tanto se dedicara.

Dois meses já havia se passado. Isabel, por graça de Deus, tinha sido aprovada no concurso e estava para começar a dar aulas na rede de ensino. Isso já aliviaria a situação. Mas, para ele...

- Isabel, a coisa não anda. Não consigo nada e nossas reservas estão se acabando. Que vamos fazer? – indagou Fernando.

- Tenha mais um pouco de paciência. Os currículos que você mandou são excelentes e vai ter uma resposta qualquer hora! – incentivou a esposa.

Dois dias depois Fernando foi chamado para fazer uma entrevista. A firma que o chamou era a Albatroz, concorrente da qual onde ele trabalhava. Foi uma surpresa. Mesmo assim foi, pois era uma chance de recomeçar e a empresa era excelente. E, melhor ainda, no mesmo ramo da qual ele trabalhou, e em franca expansão.

Fernando fez a entrevista e ia aguardar o resultado para os próximos dias. Naquela noite Olavo lhe telefonou para saber como ia indo as coisas.

- Fernando quero lhe dizer que sinto muito sobre o que aconteceu, não podia fazer nada. Estava sendo pressionado pelo Ariomar. – desculpou-se Olavo.

- Não precisa se preocupar, Olavo. Eu sei que tudo foi obra daquele “chefe”. Saiba, que de minha parte, a amizade continua a mesma. – respondeu Fernando.

- E sei também que você foi fazer entrevista na Albatroz. Desejo-lhe sorte. – disse Olavo.

- Obrigado, Olavo. Até mais.

No dia seguinte a esta conversa sai o resultado da entrevista. A empresa concordou com as condições constantes no currículo quanto à pretensão salarial e já era para começar de imediato, após atender as normas de praxe. Foi uma felicidade para o casal começar vida nova.

O tempo passou e cuidou de curar as feridas. A nova empresa com a experiência de Fernando ia muito bem. Alguns probleminhas foram resolvidos e seguia, agora, seu curso normal. Sempre em crescimento. Fernando ganhou novas promoções e estava tudo tranqüilo.

Um belo dia Fernando foi chamado ao setor de RH. Junto à responsável pelo setor que lhe mostrava um currículo que acabava de receber. Para sua surpresa era o currículo de Ariomar. Anteriormente já sabia que havia sido despedido por justa causa. Os motivos não precisava nem dizer: falta de ética na condução de negócios, fazer terrorismo junto aos funcionários ameaçando com demissão caso as coisas não fossem feitas do seu jeito, maus tratos, incompetência e outras causas bem conhecidas por Fernando.

Fernando olhou o currículo e falou para a funcionária.

- Marque a entrevista, Solange. – disse Fernando.

- Como? –perguntou surpresa, pois já conhecia o futuro entrevistado. Sua fama corria.

- Pode marcar e deixe por minha conta. - confirmou.

Dois dias depois Ariomar estava na sala frente ao entrevistador. Ainda mantinha aquele olhar de arrogância, respondendo as perguntas com ar de que tudo estava indo bem. Foi dispensado e pediram-lhe para aguardar o resultado. Entrariam em contato com ele, em breve.

Passados alguns dias Ariomar recebeu a resposta. Seu pedido de emprego havia sido recusado, agradeciam o seu interesse e que aguardasse novas oportunidades. Não se conformando entrou em contato com a empresa e solicitou que fosse recebido, pois queria saber o real motivo da não aceitação de sua proposta. Fernando se inteirou do assunto e resolveu receber Ariomar para conversar pessoalmente com ele. No dia seguinte ao recebê-lo Ariomar ficou surpreso ao ver Fernando.

- Bom dia Ariomar! Sente-se e vamos conversar. – falou Fernando.

- Não sabia que era você. Com conseguiu a vaga de gerente? – perguntou com ar irônico de sempre.

- É o seguinte. Estamos aqui para falar do seu currículo e de suas pretensões e não porque estou aqui e neste cargo. Concorda?

- Está bem. Como queira. – concordou Ariomar, perdendo um pouco da sua arrogância.

- Estivemos analisando o seu currículo e você queria saber por que não foi aceito. É que você, com sempre faz, não demonstrou sinceridade nas suas palavras. Nem ao menos citou o motivo de sua demissão da firma anterior. E nós sabemos. Principalmente eu sei! Não era para eu estar aqui te recebendo, pois não é minha função. Mas como você insistiu resolvi abrir uma exceção. O que você tem a me falar? – perguntou sério.

- Você está agindo com sentimento de vingança. Eu sei.

- Vingança? Está completamente enganado. O passado não me interessa mais, para mim o que vale é o futuro. E pelo que eu vejo você está é preocupado com seu futuro, não é mesmo? A única vaga que tínhamos foi preenchida por um jovem que mostrou interesse em aprender e se desenvolver nesta casa. Ele está no caminho certo. E vai ter todas as oportunidades para se desenvolver. Acho que a nossa conversa termina aqui. Outras dúvidas converse com a responsável pelo setor.

Ariomar estava vermelho de raiva, mas conseguiu o que havia plantado. Só teve o trabalho de se levantar e sair. Sua luta seria ingrata. Pela primeira vez viu que ia ter que repensar sua vida e seu modo de agir.

lmorete
Enviado por lmorete em 04/04/2012
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