AMOR DE CARNAVAL
AMOR DE CARNAVAL
O trio elétrico vinha entrando na Avenida Atlântica, na altura do posto seis, em frente ao Forte Copacabana. Eu e meu amigo Betinho estávamos sentados no banco do Drummond, batendo um papinho com o poeta, já de óculos novo, insensível ao batuque e à animação do carnaval.
Quando o carro passou pela gente, o Betinho falou:
- Tem uma mina lá no trio elétrico que é maravilhosa. Que gata, meu!
Então eu vi, no alto, a coisa mais linda, feliz, entregue à folia. Eu não consegui mais desviar os olhos dela. Decidi acompanhar o carro na esperança que ela me visse. Tropecei no pé do Drummond, quase caí e acho que destronquei o dedão, porque doeu muito. Ao por o pé direito no chão, justamente o que estava machucado, quando levantei da cama pela manhã, eu sabia que aquele era o meu dia de sorte.
Ela estava me olhando, achando graça do que ocorreu comigo e comentando com a garota que estava ao seu lado. Mandei um beijo e ela retribuiu. Então eu gesticulei pedindo o número do seu telefone e ela ficou tentando me dizer, mas, obviamente, eu não conseguia ouvir nada e nem decifrar pelos movimentos dos seus lábios - lindos, muito lindos, por sinal -, para que pudesse anotar no meu celular, que foi derrubado duas vezes da minha mão.
Ela começou a mostrar os números com os dedos: sete, cinco, quatro... Alguém a puxou para o outro lado. Era um sujeito que estava tentando atrapalhar a nossa comunicação. “Será que era namorado dela?” - Eu pensei, com raiva do sujeito – “Com certeza, um bobão”.
Quando voltou, ficou me procurando enquanto eu pulava no calçadão para chamar sua atenção, até que me viu. Jogou uma bolinha de papel, mas o vento que soprava do mar impediu que me alcançasse e caiu no meio do bloco. Eu tentei encontrá-la, mas não consegui. Era quase impossível parar e me abaixar, a fim de encontrar a bolinha de papel atirada pela minha musa no meio de tanto lixo que os cariocas jogam no chão.
Ela, então, anotou o número na ponta de uma serpentina e jogou na minha direção. Eu consegui pegar, mas o pedaço onde ela escreveu ficou em outras mãos e se perdeu no meio de tanta confusão. Ela jogou outra, mas não chegou perto de mim. Mas uma tentativa mal sucedida da dupla ansiosa por fazer rolar aquela súbita paixão.
A minha Julieta, do alto de sua sacada, depois das tentativas infrutíferas, ainda tentou me dizer o telefone, enfiando um papelzinho dentro de uma latinha de cerveja. Vitória! Daquela vez nós conseguimos. Pudera! Ela jogou em cima de mim e acertou na cabeça. Só que, pela abertura da lata eu não consegui retirar o bilhete. O jeito foi raspar a borda na calçada, feito reco-reco, até soltar a parte de cima. Enfim obtive o número de telefone dela, apesar de o papel estar todo encharcado de cerveja. Digitei no celular e fiz a ligação. Ela não atendeu. Fui para a praia e insisti várias vezes, sem sucesso. “Será que ela está de gozação comigo e me deu o número errado?” – Pensei.
O trio elétrico já se afastara bastante e eu andei rápido até alcançá-lo. Quando cheguei perto, vi que ela estava com o telefone na mão, falando com a garota que estava ao lado dela. Pelo jeito, o telefone não havia tocado, e ela estava me procurando na multidão.
Eu havia até esquecido do Betinho. Procurei por ele e o encontrei achando graça do meu desespero.
- Aí, tá fissuradão, hein!
Ainda tive que ouvir essa do meu amigão. Pior que, o meu camarada tinha razão. Resolvi seguir o bloco até terminar o desfile, eu não queria perdê-la de vista.
Quando nos aproximamos do carro, eu não a vi, mas logo a encontrei num bar, junto com outras pessoas que estavam no trio elétrico com ela. Eu identifiquei a garota que estava ao seu lado e o rapaz que estava tentando impedi-la de me dizer o número do telefone.
Ela me viu e veio ao meu encontro, puxando a companheira pela mão.
- Oi, meu nome é Romeu, e o seu?
- O meu é Julia...
- Romeu e Julia... – a companheira dela falou – isso pode dar um romance.
- Minha prima Beth – ela falou apresentando a outra, com um sorriso lindo.
- E eu sou o Betinho – ele se apresentou.
Fomos, os quatro, caminhando para a praia. Ela me disse que era de Itabira, em Minas, justamente a terra de Drummond, por isso ele subiu mais o meu conceito. Também foi o motivo de ela não ter atendido à minha ligação, esqueceu de me dizer o código da cidade. A Beth e o Betinho ficaram sentados junto a um quiosque e nós fomos para a areia e ficamos perto da água. Namoramos até cerca de três horas da madrugada, quando a Beth aproximou-se de nós.
- E aí, já se acertaram? A gente tem que ir, Julia.
Demos o último beijo e elas se afastaram.
- Depois eu te ligo – ela disse para mim.
Ligou, realmente, na quarta-feira à tarde, dizendo que estava indo embora e iria ficar com saudade, e tínhamos que dar um jeito de nos encontrarmos novamente.