Meninos de rua: a sensualidade das meninas
Pequeninas transitam pela cidade. As meninas cor morena do chão são percebidas nos seus movimentos diários nos bairros do Recife. O vestuário, um convite ao olhar lascivo de dezenas de meninos que se amontoam pelo local. Assim é o dia a dia das nossas meninas de rua.
Os bandos dividem-se, multiplicam-se, adicionam-se, subtraem-se. Subtrair, uma realidade de quem mora na rua. Das quatro operações essa é a mais perigosa, é o fim. Neste meio, as meninas passeiam. Corpos em formação, braços maiores do que as pernas, ombros buscando as dimensões concretas. Barriguinhas expostas ao sol, sequinhas, sambudinhas, manchadas pela vida.
A pele, muitas vezes um variado de manchas, indica a história de vida de seus pais. A sífilis é uma realidade nas rodas infantis. A promiscuidade dos genitores deixa de herança na pele, pelo corpo todo, a marca da doença. Nutrem sua sensualidade de forma simples. Pés descalços, shortinho mostrando os contornos do corpo, seios furando a mini blusa, coisas de uma puberdade ameaçada pelo tempo curto, pelo dia duro, pelo entorpecimento corpo.
As meninas marcam seus territórios pelos olhares, escolhendo seus homens meninos. Os valores são outros, os olhares são outros. Aqui, o que não é permitido, mas praticado na sociedade de classe, se pratica pelos becos, debaixo de papelões, nesta sociedade sem classe. A luxuriante vida dos bordéis da alta classe, com carrões chegando, carrões saindo com belas morenas, louras, ruivas, em nada se parece com o esfregar de corpos de nossas crianças. Suas danças corporais provocam mais que alterações hormonais, provocam outras crianças, as danças de outras crianças, os desejos de outras meninas, de outros corpos. Provocam o nascimento de outros rebentos.
Os beijos têm outros gostos. Tem gosto que entorpece o outro, o gosto químico de algum produto alucinógeno. Não tem o gosto do morango fresco umedecido no fino mel que tanto ocupa as fantasias da outra sociedade, além das suas posses.
Assim, no seu fazer história, sem sabê-la fruto de seu caminhar no mundo, desenham seus corpos noutros corpos, de igual idade, de idade menor. O riso maroto esconde o sofrimento de uma vida toda, mas desperta o desejo de dezenas de pequenos homens que as acompanham fiéis.