* DESENTRELAÇADA

Uma trança mal feita, um sorriso no rosto e pôs-se a caminhar, protegida pelo guarda-chuva. Abandonou a contra gosto a casa cheirando a café, partiu outra vez.

Sentia fala de amanhecer sempre bêbada, desde quando decidiu amadurecer, parou de afogar as frustrações em copos de vodca com energético. Amadurecer? Agora ela amanhecia cada domingo numa cama diferente. Apresentava-se como Amanda: a que não se apaixonava nunca. Era mais digno do que encharcar o travesseiro com lágrimas, depois de ter o coração partido.

Tomou essa postura depois de ter acontecido com ela o que achava que só existia em novelas: pegou o melhor amigo com o namorado. Dupla traição, a do namorado e a do amigo. A segunda doeu mais.

Depois do quinto romance, em menos de 2 anos, fracassar a gente começa a se perguntar se o problema é com a gente. Mas Amanda não queria saber a resposta, queria testar seu poder de sedução. Fazia um rodízio de baladas o mês todo, aos sábados. Cada fim de semana em uma diferente. Cada domingo amanhecendo em um apartamento diferente, com um homem diferente do lado.

Pensou que essa fase passaria logo, mas já era o 16º domingo que saía fugida, depois de deixar a mesa do café da manhã pronta. E essa brincadeira parecia ficar mais interessante a cada semana.

Uma vida mal feita, cheias de marcas do passado que a impediam de seguir em frente. A traição culminou tudo e a impulsionou a tentar caminhos diferentes, como esse.

Cheia de marcas no pescoço, deixadas por alguém que nunca mais veria. O cabelo esconde, tudo bem. No ônibus em direção ao terminal, jogou a trança de lado e sorriu para o celular, enquanto o fazia de espelho.

- Linda! – Sussurrou para o celular.

Palavras e atitudes que não condiziam com o que tinha vivido até quatro meses atrás. Era falta de coragem ou era tudo mentira mesmo? Havia inventado uma nova vida para tentar apagar resquícios de um passado que só lhe causava arrependimento e vivia essa rotina como se fosse a mulher mais feliz do mundo. Uma coitada.

Saiu correndo para pegar o outro ônibus, a três plataformas de onde estava. O elástico da trança caiu e, conforme corria, o cabelo se desentrelaçava. Quando chegava ao ponto, o motorista fechou a porta.

- Droga! - Bufou.

Um pranto incontrolável lhe encharcou os olhos. Sentou-se na calçada para esperar o nó a garganta desmanchar. Tal qual sua trança, tal qual sua vida.

Percebeu em que beco sem saída havia se metido. E chorou, chorou até que o outro ônibus estacionou na plataforma. Apesar de olharem com dó, nenhum dos passantes perguntou o que acontecia. Levantou-se e entrou no ônibus. Jogou os cabelos pra trás e encostou a cabeça no vidro. Pensando a qual balada iria na semana que vem.

Lisandra Lopes
Enviado por Lisandra Lopes em 29/03/2012
Código do texto: T3583643
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