Deus de Garrafa
Mais um dia.
Mais um dia que eu só quero chorar sozinha e alguém me incomoda.
- Bom dia moça, está tudo bem, precisa de alguma coisa?
- Sim. Preciso de algo que acabe com a minha dor física. Essa proveniente da minha dor psíquica. Preciso sentir novamente. O gosto da comida, o vento a bagunçar meus cabelos, o sol a tocar meu rosto. O abraço de verdade dado por alguém de verdade. Preciso de alguma palpitação no coração que não seja proveniente do ódio ou da entorpecência de drogas que escuto/vejo/falo/faço/sinto todos os dias. Mais luas cheias, mais sucos de morango com laranja, mais açaís com tamarindo e banana, mais skate, mais arrepios, mais ataques de riso, mais crises de choro, mais orgasmos, mais cerveja, mais sono, muito sono, dias de sono, sonos eternos, sonhos internos... Preciso fechar minhas feridas, abrir meus olhos. Rasgar minhas feridas e fechar meus olhos para todo o sempre. Cansei porque não sei, nunca sei. Mas preciso ser mais com menos, sou cada vez vez menos com mais. Preciso de mais do que morte como recompensa. Mais que resquícios de sonho como combustível. Mais do que o fim como certeza. Tem algo pra isso?
- Tem Deus.
- Grande bosta... a única vez que vi Deus foi em formato de garrafa, líquido e feito de cevada.