Quem não quer respostas não faz perguntas!
Sou um filósofo. Minha profissão, e vida, consiste em fazer perguntas (que não interessam) e imaginar respostas (que ninguém quer saber). Acordei questionando: “Quem esta dormindo comigo na minha cama?” As possibilidades estão restritas as garotas que cruzei ontem a noite. “Ver a cara dela ajudaria a lembrar”. Abri o olho e percebi que teria que partir de outro ponto: “Na cama de quem estou dormindo?” Não haveria resposta a esta pergunta se eu continuasse focado no teto branco. Banheiro! Preciso vomitar!
Quando saí do banheiro a cara da senhorita que me olhava da cama mostrou que estávamos na mesma sintonia: “Quem é você?” Dizia a expressão dela. Pedi desculpa pela sujeira que deixei para trás e qualquer outra coisa que tenha fudido ou falado. Coloquei minha roupa e saí. Tinha novos questionamentos: “Aonde estou?” Eis uma questão que não ia mudar os rumos da terra. Peguei um taxi e instruí o motorista a me levar no escritório do meu advogado. Tomei um remédio para o estômago, outro para dor de cabeça e um relaxante muscular. Continuava tudo doendo.
Quando cheguei na sala reparei num livro sobre budismo em cima da mesa. “Ele está procurando ajuda em Deus! Será que esta doente? Parando com um vício?” Não estou acostumado a tratar com os engravatados. Eles me intimidam, todos parecem meio retardados. Em alguns é apenas o efeito da roupa. “Você esta trabalhando em algum projeto novo?” Entendi: “Comece a pensar em algo que a fonte esta secando!” Estes sujeitos sempre tem alguma segunda intenção. O que tinha de mais novo as dívidas da noite passada. “Você lembra que a última parcela do seu contrato caiu a dois meses e você ainda não terminou o projeto?” “Não, lembrei que decidi esquecer completamente disso no mês passado. Achei que esqueceriam. Estão me processando?” Ele fez uma cara de desprezo.
Parei no Bar do Jaime. A filha mais velha dele me trouxe uma cerveja.
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Acordei de novo. Não queria fazer perguntas. “Quantos motivos tenho para abrir os olhos?” Descobrir quem está no banheiro, disse o barulho da descarga. Estava em casa. Não seria eu que teria que encarar o sol das duas da tarde no cocuruto. Quando ela saiu do banheiro e a vi comecei a refletir: “Não lembro quando foi a última vez que acordei com uma garota bonita e cheirosa no banheiro”. Acho que foi ela que me deu cocaína. Alguma aproveitadora o fez, nem pensamento esta passando pelo meu nariz.
Pergunta do dia: “Por que sou assim?” Enquanto dedicava meus conhecimentos a responder este enigma a filha mais velha do Jaime passou por mim e tomou o baseado da minha mão. “Você me deve. Se não lembra é problema seu”. Comecei a bolar outro. “Te devo dinheiro?” “Não seu imbecil! E não teria o suficiente.” “Então não te devo nada”, não falei, mas cogitei. Continuei trabalhando na erva. “Vou preparar um café.” Ela desceu a escada e eu deitei e atendi o charutinho do capeta. O telefone tocou: trim, trim, trim. A secretária eletrônica atendeu. “É seu advogado. Não precisa vir aqui hoje. Apenas me envie um material publicável. A situação esta se tornando insustentável. Me ligue são.”
Tomei o café. A filha do Jaime foi embora. Voltei para cama. A campainha me trouxe de volta a vida umas três da tarde. Era uma senhora dizendo que tinha me conhecido no final da década de noventa. Sua versão era de que tínhamos ficados juntos umas três ou quatro vezes naquela época. Ela não sabia ao certo, eu não lembrava. A história acabava em uma criança que já tinha doze anos. Mandei ela procurar meu advogado. Puta merda! Vou ter que escrever mais um livro e dar palestra para parasitas universitários!