A entrevista – última parte.

-E se você ficar doente?

“Procuro um médico.”

-O seu filho não se preocupa com você?

“Ele foi educado por mim; sabe que apego é desnecessário.”

-Deve ser bom viver assim tão livre...

Anna sorriu com o olhar vivo e brilhante mirando o pôr do sol.

“Estou no Mundo pra viver. Comemoro a vida, a paz, a saúde e principalmente a liberdade de morar neste País abençoado. Viver feliz é a minha maneira de agradecer ao Criador o halo de vida que me confiou.”

-Anna, você é uma mulher corajosa, mas também deve ter boa renda pra bancar tudo isso.

“O meu “tudo” se resume a uma mensalidade no hotel, alimentação, a cada três meses uma passagem terrestre ou aérea, vez por outra um taxi. No entanto eu não gasto com água, luz, impostos (de casa e carro), condomínio, telefone, empregada, farmácias, celular, computador, jogos ou supermercados.”.

-Você está vindo de que Cidade e pra onde pretende ir?

“A Cidade anterior foi Canelas no Rio Grande do Sul. Pretendo ir para ao nordeste, mas antes passarei um tempo numa pequena cidade litorânea do Rio de Janeiro.”

-Se importa em me dizer qual?

“A única pessoa que sabe dos meus destinos é o meu filho, e mesmo assim só lhe telefono quando estou com a passagem na mão, porque posso mudar o roteiro na Rodoviária ou Aeroporto.”

-É sério que numa mochila cabe tudo que você precisa? E a sua bicicleta?

Anna sorriu, foi ao balcão da lanchonete e entregou a bicicleta à moça que nos serviu, deixando também uma sacola que parecia conter roupas.

-Anna, a bicicleta era dela? Parecia usada...

“Em Cidades planas compro uma bicicleta usada. Quem vende, precisa de dinheiro. Usadas são boas porque não atraem a atenção. Quando viajo doou. Desfaço-me também das roupas de frio. Carregar peso é ruim pras articulações.”

-Suas costas são bem aprumadas, coisa rara na sua idade.

“Conhecer e praticar yoga é útil pra saúde geral.”

Anna ergueu-se, colocou a cadeira do Quiosque no lugar, me olhou e disse: “Vou me preparar para o jantar”. Sem dizer palavras me abraçou longamente, retirou do dedo uma aliança azul e me deu.

Antes que eu tivesse tempo de agradecer, ela se foi.

Na aliança está gravado: Vivo para lançar sementes.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 27/03/2012
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