INESPERADO

Quinze anos de casada, duas filhas, algumas crises e os vários deslizes e naquela noite, despediu-se ainda na garagem do motel. Um beijo seguido de um sorriso. Estava satisfeita. Saciada. Foi até uma esquina escura e desceu do carrão. "Até breve". Rapidamente procurou se proteger da chuva fina. Conferiu no relógio: "Nove da noite". Ligou o celular e olhou em volta pra ver se via um táxi. Conferiu as roupas e ouviu alguns ruídos característicos de mensagens. Com a mão esquerda pegou o telefone, viu que vinham de casa. Retornou. Depois de três toques, ouviu a voz da filha: "Mãe, onde a senhora está? Corre pra casa... o papai..."; "Calma minha filha, o que houve"; "Corre mãe, estou há tempos querendo falar e seu telefone só dá fora de área"; "Tente se acalmar..."; "Mãe, o papai foi atropelado e.... Morreu".

A frase soou como uma bomba no coração dela. Um misto de remorso e dor, comprimiam o coração. Surpreendentemente se sentia...Mal.