Entrevista – início.
Terminamos de tomar os nossos sorvetes, e permanecemos ali conversando cerca de duas horas.
A simpática e boa ouvinte senhora com muita discrição e habilidade buscou saber com quem falava e quais eram os meus reais interesses na sua pessoa.
Achei justo e de bom senso de sua parte.
Marcamos novo encontro. Ao sugerir que fosse no mesmo lugar, ela retrucou sugerindo que outro ponto completamente diferente, comentando: "porque precisamos nos repetir se há grande riqueza nas variantes?"
Na tarde seguinte exatamente às 15h30min h eu cheguei à lanchonete do Parque Ecológico e atrás de mim, dona Anna, com dois enes, como fez questão de frisar no dia anterior, chegou de bicicleta.
Ao nos abraçarmos senti que a conhecia há anos!
Ainda com a sua mão pousada no meu ombro, ela perguntou: “Como você passou de ontem pra hoje?”
-Ah, muito bem e você?
“Quer saber a verdade? Estou curiosa!” E rio divertidamente.
Quando Anna ria os seus olhos miúdos acendiam!
-Sabe, Anna eu sou professora, mas gosto mesmo é de escrever, e gostaria de escrever um conto que fosse uma mensagem positiva às mulheres. Há tantas que sofrem caladas e não encontram saídas pras suas angústias... Ao vê-la pensei: taí uma senhora de bem com a vida; qual será o seu segredo? Então, como por encanto, comecei a vê-la aqui, acolá... Dizem que acaso não existe. Anna, você se importa em ser entrevistada por mim?
“Não sei se sou interessante para os outros...”
-Anna, que tal começar falando porque atraiu a Polícia? Eu disse rindo.
“Ah!” Anna jogou a cabeça pra trás e deu uma boa risada.
“Eu acho que eles agiram corretamente. Mudo de Cidade a cada três meses; isso chamou a atenção de policiais. Eles devem ter pensado que eu estivesse traficando drogas. Gosto de saber que eles vigiam as pessoas.”
-Mudar de Cidade dá muito trabalho, disse eu pensando em caminhões de mudanças, móveis...
“Que trabalho? É só comprar uma passagem, pegar a mochila e partir.”
-Hã? Eu sabia, ah eu sabia que você era especial, disse eu fazendo um gesto largo com os braços, como quem descobre a chave de um mistério. Prossegui: há quanto tempo você vive assim?
“Há uns dez anos.”
-Pode me dizer a sua idade?
“Setenta feitos em janeiro.”
-Você tem família?
“Duas irmãs, um filho, nora e dois netos.”
-Não sente falta deles?
“Cada qual vive a sua vida. São pessoas sensatas e não precisam da minha supervisão. Às vezes, nos falamos via internet sabe? MSN.”
-Anna, há dez anos não os vê?
Ela me olhou com certo espanto e arrematou: “Vejo perfeitamente as pessoas pela internet.”
-Você não sente solidão?
"Como sentir solidão num mundo tão habitado?"
Amanhã digito a última parte