A entrevista.
Ela atraiu a minha atenção por sua vivacidade, e despojada elegância.
Em três dias a vi no cinema, lendo jornais na banca, na Biblioteca Municipal, almoçando num restaurante de comida caseira... E agora lá está ela na Lan House!
Entrei para tentar me aproximar daquela senhora com idade de ser minha mãe e que tinha qualquer coisa de Mestra.
Notei sua desenvoltura no computador e parecia estar se divertindo no Recanto das Letras!
Mesmo ardendo de curiosidade tratei de me policiar pra não ser indiscreta ou incomodá-la.
Abri a tela do “meu” computador e olhei meus e-mails, evitando abrir a página do Recanto pra não dar bandeira.
Quando notei que a senhora encerrava as suas consultas, me apressei a fechar o “meu” computador, disposta a segui-la.
A atendente da Lan estranhou meus quinze minutos de uso, e perguntou se o computador estava ok, se queria abrir outro...
Paguei a hora e saí atrás da senhora que atravessou calmamente a rua e foi sentar-se no Quiosque sorveteria, junto ao mar.
Procurei me aproximar discretamente. Comprei um sorvete e perguntei à senhora se eu poderia me sentar na sua mesa, porque tomar sorvete acompanhada é mais gostoso.
Ela sorriu com delicadeza, concordando e continuou saboreando com nítido prazer a seu sorvete de casquinha que me pareceu de cupuaçu.
“A senhora mora há pouco tempo na Cidade?” Perguntei de repente.
Só então ela parece ter reparado em mim. Me olhou atentamente e sem pressa respondeu:
-Pareço turista?
“Ah, eu não sei responder. Só sei que atraiu a minha atenção por sua maneira de curtir a Cidade, e isso não é muito comum em senhoras da sua idade.”
-Atraio, é? Ó não! A última vez que atrai alguém foi a Polícia. Sorriu divertida, me deixando ainda mais interessada.
Amanhã continuo a contar como consegui entrevistá-la.