Início de uma vida profissional

(História contada por Uilma Menezes Carvalho Pereira)

Era o ano de 1970 e eu estava com dezoito anos incompletos. Era a primeira vez que prestava concurso para emprego.

A CEPLAC, naquele tempo, ligada ao Ministério da Fazenda, estava precisando aumentar seu quadro de funcionários administrativos para ocupar as vagas que iam surgindo com o seu crescimento, abriu concurso para datilógrafo, com exigências de conhecimentos gerais, Português e Matemática, além, é claro, de ser datilógrafa e capaz de executar um número razoável de toques por minuto.

Eu havia feito o curso na Escola de Datilografia, e tinha até diploma, assinado pela diretora.

Inscrita no concurso da CEPLAC, esperei pacientemente pelo dia das provas. Já às oito horas da manhã daquele dia, firme e bastante confiante, dirigi-me ao local designado pelo Departamento de Pessoal – DEPAD -, apresentei meu cartão de inscrição a uma pessoa postada à entrada do prédio, entrei e dirigi-me a uma das cadeiras que estavam arrumadas em seis filas de dez cadeiras, escolhi uma que ficava bem à frente do responsável em distribuir as provas. No Colégio, eu sempre gostei de me sentar nas primeiras cadeiras, assim eu podia prestar mais atenção às aulas. E naquele dia eu estava realmente bastante confiante, também queria impressionar. Às 8h30min, como estava marcado, foram distribuídas as provas entre os presentes, com questões de Português, Matemática e Conhecimentos Gerais. Respondi a todas elas. A de Português contava ainda com uma redação. As provas foram recolhidas às 12h.

No período da tarde foi a prova de datilografia. Sem muita confiança, voltei ao local do concurso. Fui uma das últimas a ser chamada, e isso sempre acontecia, também o meu nome começa com U. Foi um suplício, eu não conseguia nem colocar o papel naquela máquina de carro grande, novinha em folha, toda ajustada, de marca Remington. Na escola de datilografia eu estava acostumada a usar uma pequena e velha máquina Royal, carro pequeno, tudo folgado. Quem me ajudou nessa tarefa foi um senhor alto, simpático e prestativo, que depois fiquei sabendo tratar-se do Edson Medeiros, funcionário do DEPAD e conhecido pelo apelido de “Casca de Bala”. Até hoje eu não sei a origem desse apelido.

Nesse concurso tirei o terceiro lugar e fui logo chamada. Colocaram-me para trabalhar na Fitopatologia, que tinha como chefe o Dr. Medeiros, pessoa difícil, mas que gostava de ensinar. Os outros componentes da equipe eram o Dr. Hermínio, o Dr. Manso, o Wenceslau, farmacêutico que trabalhava como técnico de laboratório, depois reenquadrado como técnico de nível superior. No laboratório tinha a Ivone, que veio a se tornar uma grande amiga e aliada ali dentro daquele ambiente machista. No escritório tinha o Nelito, meu algoz, pessoa complexada e cheia de manias, mas datilografo de mão-cheia e sabia todos os temos usados pelos fitopatologistas. Não gostava de ensinar e tampouco tinha paciência. Meus primeiros dias naquele ambiente foram terríveis. Eu e Nelito nos sentávamos um de frente para o outro, isto é, nossas mesas, por falta de espaço, ficavam coladas uma na outra. Qualquer movimento que eu fazia ele levantava a cabeça e olhava com o rabo-de-olho. Essas olhadas me deixavam cada vez mais aflita. Então, sempre nervosa, eu errava bastante. Mas só tirava o papel da máquina quando o Nelito saía da sala, ou entrava na sala do Dr. Medeiros. Ele nem batia à porta da sala do chefe, entrava sem pedir licença, tal o grau de confiança que ele julgava ter entre os pesquisadores. Pois bem, quando ele deixava a sala eu retirava da máquina as folhas de papel com erro de datilografia e as enfiava em minha bolsa, com carbono e tudo. Eu sempre levava uma bolsa bastante grande quando ia para o trabalho. Quando ele voltava, eu já estava com outra folha na máquina e datilografando o texto que me fora dado. Preocupado em mostrar serviço, ele nunca se deu conta de que eu demorava em concluir o que estava fazendo, fosse texto pequeno ou texto grande, este então, é que demorava mesmo.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 24/03/2012
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