O DIA EM QUE QUASE FUI PRESO

O DIA EM QUE QUASE FUI PRESO

Era a época da ditadura militar, os anos de chumbo, final da década de 70. Eu trabalhava na TELEPAR, empresa estatal de telefonia aqui no Paraná, que depois de privatizada virou Brasil Telecom e hoje é Oi.

Na hora de almoçar convidei meu amigo Ciro Araújo Lima, de saudosa memória, para me fazer companhia. O Ciro era um sujeito muito quieto e calmo e, além de trabalharmos na mesma Empresa, à noite, cursávamos Direito, na Faculdade de Direito de Curitiba.

Passávamos pela Rua Ébano Pereira quando percebemos um alvoroço. Vimos uma bicicleta jogada na calçada, uma mulher negra gritando desesperada e um sujeito batendo em um senhor de certa idade, também negro.

Atravessei a rua dando gritos, e arranquei o sujeito de cima do senhor, puxando-o pela gola do casaco.

Juntou um monte de gente e formou-se uma roda cercando o agressor. Este, sacou um documento do bolso, meio assustado por causa da multidão e identificou-se como policial. Naquela época mexer com policial era a mesma coisa que mexer em casa de marimbondos.

Como eu já tinha enfiado o pé na jaca resolvi continuar botando a boca no trombone. Disse energicamente ao policial que ele não tinha o direito de agredir uma pessoa de idade que nem reagindo estava.

Estava armada a confusão, mas em razão da quantidade de pessoas que se juntou o tal do policial manteve a bola baixa.

Em dado momento, olhei para o lado da Rua Cândido Lopes, lá pelos lados da Biblioteca Pública e vi dois policiais militares se aproximando. Desconfiei que a coisa pudesse esquentar para o meu lado e, aproveitando a confusão, atravessei a rua e entrei rapidamente na agência do Bamerindus que existia na esquina com a Avenida Luiz Xavier. Subi até a sobreloja e, pela vidraça, vi os policiais a minha procura gritando: - Cadê o herói?

O herói estava quietinho, quase se borrando de medo. Ainda bem que não me encontraram.

Deixei a poeira baixar e, depois de algum tempo, fui embora.

No dia seguinte, na hora de almoçar, convidei novamente o Ciro para me fazer companhia.

- Não sei se vou, Cleomar. A não ser que você prometa que será um almoço sem emoção. Ou então vá se emocionar sozinho!

Fomos juntos para um almoço tranqüilo e sem emoções.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 23/03/2012
Reeditado em 14/04/2012
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