DENTRE AS FÁBULAS DA VIDA...

Uma delas aconteceu comigo.

Faz mais ou menos dez anos que durante uma pequena reforma da casa eu resolvi texturizar uma parede da sala com uma daquelas cores fortes da moda vigente das decorações.

Sempre fui chegada em tons pastéis mas há certos momentos da vida que pedem por cores mais fortes, cores de atitudes mais determinantes.

Assim que me decidi eu comprei uma porção daqueles produtos de textura e contratei um pintor, um senhor artista das paredes que aprendeu seu ofício apenas pintando as telas da vida.

De fato ele era exímio no que fazia.

Assim que texturizou a parede dum amarelo bem forte eu tive a impressão de que o sol nascia dentro da minha sala diuturnamente.

Ali decerto que o sol não se poria nunca, foi o meu sentimento maior.

Na verdade a minha intenção era "trabalhar" duas paredes do recinto mas, dado o resultado tão vivo da minha invenção nada técnica, fiquei de repensar se texturizaria uma outra parede.

Como sobrou material o pintor me pediu se poderia levar aquele resto consigo a me confessar que o sonho dele era o de ter uma parede de alvenaria...texturizada, dentro dos seus poucos cômodos de madeira.

Eu lhe pedi que voltasse no próximo mês para que assim eu pudesse decidir se utilizaria ou não a massa restante na outra minha parede, e se caso desistisse eu lhe daria o que sobrara.

Ele nunca mais voltou porque faleceu tão logo terminou o serviço lá de casa.

Há poucos dias, fazendo eu uma limpeza no depósito, encontrei o resto da textura que ali permaneceu inutilizada por todo este tempo sem sequer enfeitar o desejo de alguém.

Sempre me lembro no episódio que tanto me significou porque a mim me pareceu ilustrativo demais, o fato do quanto tudo por aqui é materialmente efêmero , e o que nos fica são as nossas pequenas alegrias e a tão diminuta felicidade que muitas vezes proporcionamos a alguém.

Ou lamentávelmente nos fica o incômodo sentimento das possíveis alegrias que as deixamos de proporcionar...por mero egoísmo ou por insensível distração.