Laura

HISTÓRIA DE LAURA

DALVA SAUDO

RIO DE JANEIRO, comunidade da Rocinha. Ali morava Laura em um humilde barraco, na parte baixa da favela.

Laura era humilde, polêmica. Surpreendente! Pobre, muito pobre. Qualquer roupa, por mais humilde que vestisse, causava admiração.

Encantávamos! Alta, loira, olhos cor de mel, cabelos loiros brilhantes e com encantador movimento.

Aspirava por um lar que nunca tivera.

Para sustento dela e do sobrinho, lavava, passava, faxinava... Tudo o que fazia resultava em perfeição.

Mas... sempre, sonhando em ter um lar.

Fazia de tudo para os amigos. Até o impossível. Ia para o hospital e até para a delegacia... Conforme a necessidade de cada um.

Era só precisar que lá estava Laura toda solícita para defender, testemunhar, consolar ou tentar curar de alguma forma. Para os amigos, não tinha limites. Arrumava até advogado!

Causava admiração nas duas partes. Na vítima e no doutor.

Mas... se precisasse de um deles exigia retorno.(uma espécie de manipulação ) Ficava perplexa, ofendida se não fosse atendida. Tinha que haver um espelhamento. Ida e volta. Uma recusa causava-lhe repulsa.

Tinha um lado misterioso em sua personalidade insondável!

Era de complexas contradições. Nem sempre refletia sua interioridade. Exigia perene fidelidade. Esse era o único item para se tornar amiga de Laura.

Palavra chave: FIDELIDADE

Ao exigir o retorno de tanta bondade havia essa exigência. FIDELIDADE.

Mas... Laura não se esquecia do seu sonho. TER UM LAR.

Continuava com sua vida complicada, pobre, mas com uma personalidade incrível.

Não exitava em mandar o inimigo para a prisão com seu testemunho ou salvar um amigo do coração.

Pelo comportamento irreverente e às vezes anti-social, com pouco equilíbrio e superego quase sempre deixando a desejar, estava sempre procurando amigos para ajudá-la às denúncias contra supostos futuros inimigos.

Amigos que recebessem favores de Laura ficavam presos por tênue e esvaecida linha imaginária.( Potenciais devedores de favores) das horas de necessidades de Laura , que não eram poucas.

Ao receber uma negativa, transformava-se em furacão, passando queimando destruindo como lavas por cima dos amigos não importando as conseqüências.

Era de certo modo até temida pelos próprios amigos, por exigir tanta dedicação.SE GOSTAVA DA PESSOA, AMAVA.SE NÃO GOSTAVA, ODIAVA.

Não pensava duas vezes para jogar cerveja nos pés de quem ficasse em sua frente em mesa de bar tampando-lhe a visão. Se algum homem a observasse na rua, ia logo dizendo: “ O que há hein? Pensa que sou biscate?”

Laura tinha idéia fixa. Queria um lar, uma família. Namorava, tentava, até que um dia conheceu Luís e logo se apaixonou.

Luís não estava indo bem no casamento, e estava endividado.

Ele era inspetor de alunos em Escola Estadual do Rio de Janeiro e havia se envolvido em brigas entre alunos e marginais.

Estava respondendo por inquéritos: Policial e administrativo. Consequentemente sem vencimentos.

Laura entrou como um verdadeiro anjo em sua vida. Arrumou-lhe um advogado amigo o qual lhe devia favores, salvou- o do casamento desgastado, serviu de testemunha nos inquéritos necessários, pagou suas dívidas com dinheiro que suadamente havia guardado com as faxinas.

Luís encantado casou-se com ela. Livrou-se dos processos, voltou para a repartição.

Foram morar no lugar mais alto da favela da Rocinha, festejados com samba, suor e muita cerveja.

Sempre surpreendente Laura transformou seu humilde barraco da favela em uma linda e imensa mansão, de dois andares somente igualável as da zona sul do Rio. Diz ser amiga de todos (as) e que nem precisa mais de cadeados no portão.

Lá do alto, admirando uma das sete maravilhas do mundo, o CRISTO REDENTOR de braços abertos para o Rio diz: "NASCI PARA VENCER E FICAR NAS ALTURAS. AQUI É MEU LUGAR!"

Se é feliz? Ninguém sabe. Sabemos é que está bem mais tranqüila e equilibrada emocionalmente.

E-mail-dalvasaudo@gmail.com

Postado por DALVA SAUDO

Dalva Saudo
Enviado por Dalva Saudo em 22/03/2012
Reeditado em 11/05/2013
Código do texto: T3568607
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