Meninos de rua: um conto natalino
A chegada do Natal é esperada ansiosamente pelas crianças. As possibilidades de um grande presente povoam a mente de meninos e meninas em todo mundo. No Brasil não é diferente. Há sempre uma mãe, uma tia, um pai, uma irmã ou irmão mais velho a lembrar aos pequeninos.
- Já escreveram para Papai Noel ? Não? Pois é bom fazer seu pedido para ele, pois como é que ele vai saber o que queres ganhar?
Nisso as crianças, apressadas e ansiosas, dias antes, já preparam papel e lápis e colocam seus desejos infantis para a apreciação do bom velhinho. Correm ainda na cômoda, apanham uma belíssima meia e penduram na cabeceira da cama na véspera de Natal.
Do outro lado, nas entranhas da cidade, outras crianças, porém, não tem a mesma visibilidade da noite de Natal. Não existe pai, mãe, irmã, tia, ninguém. Só eles e o sofrimento. Na palma da mão não tem o lápis, na palma da mão não tem o papel de recados, tampouco sabem escrever, tampouco tem para quem escrever, quiçá ganhar presentes. A miséria diária lhes arranca as possibilidades de uma ceia de Natal. A família de rua se reúne no frio da noite natalina.
Dói andar pela noite de Natal. Nossas crianças vagam pela cidade. O Centro está iluminado, as avenidas enfeitadas com as luzes da época. Passa ao largo, o coraçãozinho tilintando de tristeza. Não tem o direito. Nunca teve o direito de participar no seio de uma família amorosa, da ceia de Natal. Corre pelas ruas, olha nos olhos das pessoas com tristeza. Há uma lacuna a ser preenchida. Não compreende e não é compreendido. Do outro lado da janela há uma família em plena ceia de Natal. As crianças asseadas, cabelos bem cuidados, os pais explodindo numa alegria sem igual e a mesa farta. Peru, salgados, doces, refrigerantes. Tudo. As crianças brincam, se divertem com os presentes que ganharam, fruto dos recados, das meias e do sono bem guardado da noite anterior. Do lado de fora, uma lágrima escorre pelo rosto infantil, um vazio invade o pensamento do menino de rua. A pequenina cabeça não compreende a razão de tão grande paradoxo. Calado, observa o movimento de todos lá dentro. A árvore de Natal está lá, belíssima cheia de presentes aos seus pés. O pequeno menino, lá fora, de pés descalços com um sonho rasgado está inerte. De repente desce do tijolo que o tornou alto o bastante para ver o quadro de Natal e caminha a esmo. Ele e o seu presente inseparável, o frio.