Já passou o ônibus?
Lá estava eu, naquela corrida diária atrás dos ônibus que me levariam ao meu paraíso intelectual que é a minha universidade.Tinha saído de minha “humilde”(a ironia desse adjetivo faz me quase rir) residência e já tinha sofrido a primeira viagem de transporte coletivo.
Como o último deles estava demorando muito mais do que o usual para passar naquele forno que é o segundo terminal, eu me sentia talvez até mesmo cansado de tanto nervosismo (já me preparando para um plano B caso a situação não mudasse).
Pois bem, eu era só um corpo exausto e minhas pernas magras já reclamavam do tempo demasiadamente longo que se demorava para achar um lugar de descanso. Meus pensamentos estavam em um circulo vícioso como comumente acontece em tais situações: o bendito 616 que não passava, minha querida menina (este obviamente seguidos dos sentimentos de saudade intrínsecos a este tipo particular de pensamento) e o destino final da UFAM.
Para falar bem a verdade - que uma mentira em um conto que não tem nada de fantástico é preparo mediocre de literatura- estava estupidamente um pouco adiante daqueles acontecimentos banais (mais especificamente preparando o discurso que daria ao professor de como o seja-lá-onde-estava 616 tinha demorado uma vida e mais um dia) e, claro, naquele calor.
O maldito calor! Os corpos amontoados naquela parada me lembravam de uma paeja (tudo muito colorido e quente), te confesso que o culpado por tal assimilação bizarra não era meu órgão romântico e poeta do coração mas sim o plebeu mimado do meu estômago. Eu, que sou mais peludo do que um macaco, soava feito um porco (pensando em talvez comer um quando essa loucura acabasse).
Quis Deus (esse exímio piadista metafísico), que o ônibus que viesse me salvar fosse o 550, o que significa que eu daria uma volta um pouco mais longa em torno do calderão geográfico que se chamava Manaus, mas me levaria até a UFAM de qualquer modo.
Quando passava perto da parede florida que separava a parada da UFAM do resto da civilização eis o que vejo: o 616 (não tinha chegado nem no meio do caminho, aquele bastardo!), xinguei-o mentalmente num inglês agora britânico (graças ao sotaque do próprio professor do curso) e continuei viagem um pouco mais leve.
E, enfim, cheguei: com mais sede do que um camelo desidratado e talvez molhado pelo molho salgado de meu próprio suor mas, de qualquer modo, inteiro. Olhei para o professor e começei o discurso tão preparado que me preocupei parecesse mecânico mas graças a Deus fui interrompido em meio à gritaria da sala. A única coisa com que se importava, tanto ao professor quanto a este aluno-gauche era o objetivo imédiato: estava na hora de estudar.