CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte VIII
 

CONTO – Nobre, uma lição de vida – 20.03.2012
 

          O velho Nobre, que veio passar o dia conosco na nossa casinha de praia, estava muito tristonho com a reportagem em que a Rede Globo de Televisão mostrara para o mundo inteiro as falcatruas que ocorrem nas licitações desonestas envolvendo entidades do governo federal. Aliás, ele falou que não sabe como imaginar o privilégio que essa emissora tem ao dar o “furo” da notícia e ainda mostrar imagens em primeira mão. – Talvez tenha sido alguém de dentro das empresas, mostrando-se desgostoso com alguma situação desvantajosa para si ou mesmo por parte de pessoas do lado do governo, dessas que tenham sido punidas por cometer ilícitos ao longo de suas atividades na esfera do poder, falei pra ele. – Poxa, rapaz, eu também pensei nisso, mas aqui pra nós e pro mundo todo, o que levou o diretor do hospital a permitir que a TV Globo fizesse esse trabalho, inclusive armar um escritório dentro do ambiente, indagara; o que é pior, fazer o repórter de encarregado de todas as compras e concorrências.

          ...E continuando: Para mim somente uma pessoa poderia autorizar essa reportagem investigativa, qual seja um juiz de direito, isso se aberto um processo ou mesmo provocado pelo Ministério Público. – Também acho, respondi, mas não será que o tal diretor já sabia de todas as safadezas lá existentes? Perguntei. – Pode ser que sim, mas na verdade essas dicas não devem ter saído gratuitamente, concluíra o Nobre.

          Prosseguindo: -- Sabe, Pirilampo, fiquei ainda mais chocado quando ouvi a notícia de que os do governo estariam criando uma empresa pública exclusivamente para tomar conta de todas as concorrências que envolvam negócios da área da saúde; talvez algum tenha dito: “Puta que o pariu, como é que nós perdemos essa boca, deixando que particulares abocanhe tanta grana, quando o mais certo seria beneficiar a todos nós da esfera governamental”! – Isso é bem provável, mas se realmente essa empresa for fundada aí é que vai haver safadeza e das grossas no comando de todas as compras, eis que as pessoas neste país querem tirar vantagem de tudo, e no governo atual as coisas pioraram numa proporção assustadora; já pensou num homem competentíssimo como o Delúbio Soares para presidi-la? Enquanto isso o nosso povo vai morrendo à míngua sem recursos na área da saúde; até mesmo o dinheiro da antiga CPMF foi criminosamente utilizado em sacanagens dessa espécie.

          “Tenho a impressão de que vou morrer e nunca verei o meu país no rol daqueles sérios em qualquer área da administração pública”, falara o meu velho amigo. – Também concordo, você não se lembra que faz pouco tempo que o presidente da Casa da Moeda do Brasil foi demitido por desconfiança ou mesmo certeza de que ele estaria se comportando de maneira desonesta; isso para mim ou num país sério seria o maior escândalo de todos os tempos, eis que tal órgão também fabrica dinheiro para outras nações. – Já pensou se esse sujeito emitiu bilhões de reais de maneira fraudulenta e os jogou no mercado sem que ninguém o soubesse, concluíra o Nobre.

          -- Mas me conta se no seu tempo de bancário do BB essas coisas aconteciam. – Meu caro, a desonestidade vem desde quando criaram o mundo, não se recorda dos trinta dinheiros que o Judas recebera para entregar Jesus de mão beijada aos soldados! – Claro, inclusive o Partido dos Trabalhadores sempre se defende alegando que as imoralidades no Brasil começaram desde o descobrimento, há mais de quinhentos anos. – Mas eu gostaria de saber sobre a sua época de banco, retruquei...

          “Vou lhe contar apenas e tão-somente um caso bem simples; eu era ajudante de serviço da Carteira Agrícola em Limoeiro (PE), substituto imediato do Chefe; pois bem, tratava a todos com a mais absoluta lisura e com a responsabilidade que cabe ao cidadão que trabalha para uma empresa do governo (embora seus funcionários não sejam federais, mas apenas bancários, eis que o BB é uma entidade de economia mista, inobstante o governo ser seu maior acionista); pois bem, na fase do Natal de 1965, eu era o responsável pela carteira, em face de o titular haver se afastado por motivo de doença (um câncer incurável); então aparece na minha casa o filho do dono de uma firma de beneficiamento de algodão, que prefiro não nomear, e me faz entrega de um envelope contendo algumas cédulas:” Nobre, isso é o nosso presente de Natal pra você, que nos tem tratado com muita distinção...etc.”. – Permita-me dizer que não estou fazendo nada mais do que a minha obrigação, e mesmo que eu aceitasse essa oferta estaria absolutamente contrário às normas regulamentares; além do mais, desculpe-me pois eu ganho muito bem, não posso aceitar presentes dessa modalidade. – Então o que devemos comprar para agradá-lo? – Respondi de pronto o que veio na cabeça: Um pente, por exemplo... O rapaz, educadamente, saiu de cabeça baixa, mas falou assim: “Mas todos recebem nossos brindes, desculpe-me”. – Está desculpado, boa noite, meu abraço”, respondi.
 
Indústria de beneficiamento de algodão - Limoeiro (PE)
 


          Então eu falei para o Nobre: Imagine se fosse um sujeito desses sem vergonha do governo, do PT, será que ele receberia, e caímos na risadaria. “No PT tem muita gente direita, de vergonha na cara, mas acredito que teria embolsado aquele presentinho, claro”, respondera. – Verdade, não viu quanta renúncia de ministros por malversação de dinheiro público, sem que providências penais fossem tomadas para punir os infratores; o que é pior e chateia a todos nós é que eles continuam aí mandando e desmandando, com a ficha limpa, esnobando pureza...tem até gente que é presidente de partido político, fechei o assunto.

          Fico por aqui, até a próxima.

Fotos: GOOGLE 
Em revisão.
Ansilgus.
ansilgus
Enviado por ansilgus em 20/03/2012
Reeditado em 21/05/2012
Código do texto: T3565017
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