Uma caneca de sopa - mini conto

Pobre meninazinha. Tão insegura, tão frágil...

Primeira série escolar - primeiras letras - primeiras companhias desconhecidas - primeiro local coletivo, sem a proteção da mãe.

Obediente, vai seguindo as ordens que se sucedem.

Recreio. Fila - para quê? - Não importa, vai seguindo...

Recebe das mãos de alguém uma caneca fumegante. Olha curiosa. Cheira: sopa. Seu estômagozinho se embrulha. Não gosta do cheiro. Experimenta. Não gosta de sopa, não gosta de comida muito quente... Acha a quantidade enorme. Mas aprendera com a mãe,que não se pode rejeitar comida... nem deixar resto no prato. Ainda mais em casa alheia!

Afasta-se para um canto, olhando aquilo. Que fazer? Observa em volta. Seus colegas já terminaram e estão devolvendo as canecas.

Tenta tomar. Já está morna. É possível engolir. Contendo a ânsia engole, resignadamente, pouco a pouco, desviando o pensamento para não sentir o sabor asqueroso e gordurento.

Quando já conseguira baixar metade do conteúdo, buscando forças para engolir tudo de um só gole, eis que surge alguém, à sua frente. O menino que ficara ao seu lado na fila. Rindo de sua audácia, derrama, sem dó nem piedade, a própria sopa na caneca da menina.

Desesperada, ela olha, sem saber o que fazer. Mal daria conta de tomar o que lhe havia restado... e agora tinha de começar novamente - e numa quantidade enorme... E não havia mais colegas no pátio. Sem saída, faz apenas o que o seu coraçãozinho contrito sugere: chora copiosamente.

Alguns segundos se passam e eis que aparece, em sua frente, a mais linda figura dos contos de fada. Uma moça, adolescente ainda, com uniforme igual ao seu. Olhando, compadecida, pergunta o que estava acontecendo.Entre soluços a menina explica.

Mais que depressa, a fada benfazeja toma a caneca, vai até o latão de lixo, entorna a sopa, volta, devolve-a vazia e indica onde a menina deve colocá-la.

Esta, com a garganta travada pela comoção, olha agradecida e vai correndo em direção à fila, onde as outras crianças se preparam para entrar, novamente, em sala.

Um último olhar de gratidão e a impressão indelèvel na alma, daquele rosto, mais lindo do que todos os que já vira...