"EU SOU UM, QUE DOIS NÃO GANHA" (MÃE REGINA DE IEMANJÁ)

“EU SOU UM, QUE DOIS NÃO GANHA”

(MÃE REGINA DE IEMANJÁ)

Há muito penso e reflito sobre esta frase, dita por uma grande mulher que pesquiso, Dona Regina ou Mãe Regina de Iemanjá. Hoje encontrei duas pessoas de meu passado, que tivemos nossas rusgas e nos cumprimentamos, quando me perguntaram “e os projetos?”, respondi, lanço outro livro este ano, e me perguntaram “o da tese?”, eu disse, também, mas falava de outro o “Emoções reveladas” e nisso veio o meu ônibus. Me dei conta da minha fortaleza e lembrei, mas uma vez desta frase e desta grande mulher, que durmo e acordo pensando nela, em sua vida e como posso expor sua fortaleza, muito disso através dos depoimentos dos filhos de santo dela, pois não à conheci em vida, mas de tudo que me foi dito, trago aqui dois ditados dela, nos quais sempre recorro e acho de muito grandeza e muitos significados: “Na prevenção ninguém me ganha” e “Eu sou um, que dois não ganha”. Com toda certeza ela foi mais que isso, uma mulher negra, viúva, que chega ao Rio de Janeiro em 1957, deixando três filhos na Bahia, vem morar numa casa alugada, em Cavalcante, onde também cultuava a religião dos orixás, o Candomblé, depois de alguns anos migra pra Santa Cruz da Serra e constrói uma grande casa de santo, o Axé Ilê Yamim, local onde hoje fui iniciada no candomblé, por sua neta, a minha Ya, a Mãe Lina de Oxumarê. Neste último ano e principalmente nos últimos dias a vida e obra de, Dona Regina Topazio de Souza, não sai de meu pensamento, escritas e tudo o mais.

Um outro dia eu tentei pegar um ônibus, estava com minhas contas, pois estou cumprindo o resguardo de minha obrigação iniciática, bom o motorista não abriu a porta pra mim, me sinalizando que o ponto era mais a frente, isso mesmo ele estando parado por conta do trânsito engarrafado, e muito chateada fui andando, cerca de uns dez minutos e cheguei ao ponto, fiz o sinal, ele abriu a porta e sorriu de canto, como um deboche, eu firmei o olhar pra ele, entrei no ônibus e nada disse, mas pensei nesta frase “como dizia Dona Regina, eu sou um que dois não ganha”. E tudo por causa das minhas contas, mas isso só me fortaleceu, imaginem o que Mãe Regina não passou e tantas outras mulheres negras do candomblé ou não, por volta de 1960? Estamos em 2012, e ainda existe preconceito, mas vamos vencer, temos que vencer, porque ela venceu, pois faleceu em 2009 com mais de 90 anos e deixou um legado.

Sei que hoje, a senhora é um ancestral, e onde esta de alguma forma permitiu que humildemente eu escrevesse parte de sua história, estou tentando catalogar sua História de vida, que se mistura com a História de salvador, do Rio de janeiro, do Brasil e ainda com a de seus antepassados africanos.

A minha forma de reconhecimento e gratidão é poder escrever as melhores linhas de minha vida, neste trabalho.

Elaine Marcelina

Elaine Marcelina
Enviado por Elaine Marcelina em 17/03/2012
Reeditado em 17/01/2013
Código do texto: T3559896
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