Palavras diretas
Ríspidas. Claras. Críticas ao extremo. Tão esperadas e tão dolorosas quando lidas e relidas. Compreendidas. Aceitas por um coração em pedaços. Machucado. Entristecido. Desiludido. Observações úteis e valiosas. Sim. Mas não naquele momento. Nunca daquele jeito. Os anos passaram. As palavras não. Ainda estão aqui em minha mente. Tímida mente. E, timidamente tento escrever. Receio que não como antes. Não sem hesitar. Pergunto: Se o que escrevo tem algum valor? Se serve para alguma coisa ou para alguém? Ou se são apenas palavras inúteis, sem sentido, mal escritas, vagas, vãs...tolas? Ou pior, se o que escrevo são apenas palavras repetidas, palavras que já foram escritas, ditas e lidas? Será que sou um plágio? Será que apenas reescrevo algo que já li? E agora? Como vou saber? Alguém sabe me dizer? Eu confesso que não sei mais nada, apenas sei que amo escrever. Escrevo porque me faz bem, sempre fez. E, acredito sinceramente, que muitas outras pessoas deveriam fazer o mesmo. Deveriam escrever sobre o que pensam, sobre o que as inquietam, incomodam. Escrever sobre o amor, a dor, a alegria, a tristeza. Inventar uma história. Arriscar uma poesia. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”como já escrevia, o meu querido Pessoa. Meu escritor preferido, que me conquistou desde o primeiro poema. E continua conquistando até hoje. E, eu lamento, profundamente, que nossas escolas no Brasil não incentivem a escrita. Porque escrever é libertador. Para se escrever, precisa se pensar, refletir...Nós falamos sem pensar, mas dificilmente escrevemos sem pensar. E o fato de querer refletir...querer buscar as melhores palavras, isto é revelador. Vamos descobrindo que existe um Universo além de nós, além do mundinho em que vivemos. E que este Universo pode ser descoberto a qualquer momento, em qualquer lugar através da literatura, por exemplo. A literatura que, é e sempre foi, uma guerreira que não se deixa eliminar dos currículos escolares. Existiram tentativas, muitas, mas ela permanece firme. Sem esmorecer. Sem deixar a peteca cair. Segue sendo levada por poucos e valentes professores aos seus alunos que, quando bem ensinados, nunca a vão esquecer. Suas vidas podem ser duras, mas existirá sempre um momento em que se lembrarão de um trecho, de alguma citação, de alguma história que os marcou. Que provocou, talvez, um estranhamento, um choque de valores....algo que trouxe algo novo. Algo que por ser diferente ficou em suas mentes. Provocou inquietações, questionamentos. Mas quem, hoje em dia, quer que este tipo de coisa aconteça? Qual o patrão quer que seu funcionário questione as suas ordens ou os seus valores? Qual dirigente religioso que quer que seus “crentes” questionem os seus textos? Qual político quer que seus eleitores sejam cultos e, portanto, não se deixem enganar com suas promessas? Qual professor quer que seus alunos perguntem além do que está preparado para responder? Todos nós gritamos por liberdade e, criticamos prontamente qualquer pais que oprime o seu povo. No entanto, será que estamos preparados para aceitar todo e qualquer questionamento? Quando aquelas palavras diretas chegaram até mim, eu confesso que, não as recebi bem. Fiquei aturdida. Não estava esperando por críticas tão fortes. Sabia que elas existiriam...sabia que a demora na resposta era porque ele não sabia como dizer. E, no final, saíram daquele jeito...que foi difícil de receber sem chorar, sem ter vontade de nunca mais escrever qualquer coisa. Eu não estava pronta para aceitar aqueles questionamentos. Foi preciso quase três anos para que, somente hoje, eu reconhecesse que aquelas “palavras diretas” foram para o meu bem e, mesmo que não fossem...Ele tinha todo o direito de dize-las.