O ANJO DO MOMENTO
O ANJO DO MOMENTO
Alguém perguntou lá no fundo do laboratório: -“Onde está a Suelen?”, a moça morena de cabelos enrolados numa touca branca, respondeu atrás da máscara: “-Ela ainda não chegou, deve ter acontecido alguma coisa, pois ela não se atrasa”. Continuaram conversando e nem notaram a chegada da Suelen. Ela estava transtornada. O rosto inchado de tanto chorar. Quando ela viu que todos a olhavam, ela correu para os braços da Marilena, sua melhor colega, e desabou. Chorou forte, abraçada a outra moça, , que sem saber o que estava se passando, imaginou que era algo muito grave.
Ela contou e recontou a triste história do acidente de carro que seu irmão tinha sofrido na madrugada do dia anterior. Ela soube à noitinha, quando chegara a casa. A irmã mais velha, Soraia viera com o marido, dar a notícia. Tinha sido tudo muito rápido, O Sandro, tinha comprado um carro e estava tirando a carteira, como não aguentou esperar para dirigir, começou a sair de noite para não ser pego pela policia. No dia do acidente, ele tinha vindo de uma festinha com os amigos. Pode ser que tivesse bebido alguma coisa, o que não era costume. O carro bateu de frente na parede do túnel, e tinha ferido seriamente o rapaz.
O gerente do laboratório quando soube do caso, dispensou a Suelen, e a Magali. Pediu para a Magali, acompanhar a Suelen até o hospital, para ver se ela poderia ver o irmão. A Magali seguiu com a colega de trabalho. Chegando ao hospital ela estacionou o carro, e pensava consigo mesma: - “Como eu gostaria de encontrar “alguém” que pudesse dar maiores informações sobre o estado do Sandro”. Chegaram à recepção do hospital e foram informadas que era impossível visitar o acidentado, ele estava no CTI. No hospital tinha uma pequena capela, Magali convidou Suelen para ir até lá rezar para Sandro. Suelen pediu para Magali ir numa cantina que tinha lá fora, comprar água mineral e se pudesse um copo de café, pois ela estava sentindo-se muito mal, preferia ficar na pequena capela rezando.
Magali saiu da capela andando rapidamente sem olhar por onde passava. Esbarrou em alguém. Olhou para o alto, e viu surpresa a sua frente. Alfredo, seu amigo de infância. –“Soraia, o que está fazendo aqui, não sabia que tinha trocado a química pela área de saúde”, disse o Dr. Alfredo, velho amigo de Magali, desde os tempos da adolescência. Ele continuou: -“Tem alguém da sua família internado aqui?” Magali respondeu negativamente com a cabeça, e o puxou pelo braço para um canto do corredor. Explicou-lhe a situação do irmão da Suelen. Alfredo comentou: -”Parece coincidência, estou namorando uma interna do CTI, acabo de deixá-la na entrada do hospital, fomos almoçar juntos, pois hoje faço consultório aqui no Centro”. Magali implorou ao amigo, para que ele desse um jeito e levasse Suelen para ver o irmão, pois ela estava desesperada e não tinha muitas esperanças. Alfredo ficou tocado com o pedido da amiga, e conversou com a namorada. Os dois deram um jeitinho e Suelen pode ver o irmão por alguns minutos, segurou-lhe uma das mãos, e sentiu que ele segurava sua mão com uma força que ela jamais imaginou para quem estava em coma.
Após a breve visita, Suelen saiu do CTI, acompanhada de Magali. As duas agradeceram, muitas vezes, o gesto de Alfredo e da médica que ele namorava. Magali foi avisada por Alfredo, que o caso de Sandro, era muito grave, e as esperanças eram poucas.
Suelen foi para casa e passou uma noite interminável com as irmãs e o pai. Estavam numa vigília de oração. No hospital, a medica, Dra. Sonia, ficou comovida com o gesto de Suelen, e após o relato dela, de que o irmão tinha segurado sua mão com tanto sentimento, ficou mais atenta ao paciente. Durante toda a noite esteve por perto. Lá pelas quatro e meia da manhã, antes do sol nascer, ela teve uma visão esplendorosa, enquanto cochilava ao lado do leito de Sandro. Um homem alto, louro de olhos muito azuis, com roupas largas e brilhantes, parecia que ele estava debaixo de um foco de luz, olhava para ela e para o leito de Sandro. Abriu os braços em direção ao alto, e de suas mãos saiam raios de luz multi coloridos, os raios de luz, penetravam o corpo de Sandro, enquanto em outro plano da visão ela via muitas figuras nebulosas se afastando, do corpo de Sandro, como se fossem milhares de fantasmas no escuro da noite, fugindo da luz do dia. O homem ficou ali junto deles, até o sol amanhecer.
A Dra. Sonia achou que o cansaço a vencera e fizera ver coisas que não existiam. Saiu de perto do leito de Sandro, ia procurar um café para tomar, enquanto saia do CTI pelo caminho sentiu um cheiro de rosas e jasmins pelo ar. No fundo do corredor, ela viu o vulto do homem louro, que estivera ao lado dela velando o sono profundo de Sandro. Na hora de deixar o plantão, pouco mais de duas horas depois daquele estranho sonho, Dra. Sonia, esbarrou com o homem louro de belíssimos olhos azuis, ela achava que o conhecia de algum lugar, e não se lembrava de onde. Até que ele falou com uma voz serena e profunda; - “Aí vamos nós, acabamos mais uma etapa, você conhece o rapaz do box 5”?. Ela respondeu: “Sim, e não, por que”. Ele disse: “Casos como o dele, são raros, mas tenho um palpite, que ele vai sobreviver”. E desapareceu repentinamente, deixando Soraia falando sozinha no final do corredor.
Alguns dias se passaram, e Sandro foi apresentando várias melhoras, e depois de quinze dias, recuperou aos poucos a consciência e saiu do estado de coma. Em um dos seus relatos, para a família, dizia sempre: “-Um anjo, um homem louro, alto de olhos azuis veio aqui várias vezes. Ele abria os braços para o alto, e me enviava uma espécie de energia, eu tentava abrir os olhos, mas estavam muito pesados. Ele me dizia muitas palavras de força e coragem. Eu sei que ele era um anjo”. A família não acreditava muito no que ele dizia, mas a própria Dra. Sonia esteve presente no dia da alta do Sandro, e narrou o estranho sonho que tivera enquanto estava no CTI ao lado do leito do afortunado rapaz.