A praia

Areia branca e água azul-escuro cintilante, ondas chegando em longas cristas de espumas brancas semelhantes às formadas quando leite quente é derramado sobre uma superfície fria. Surfistas aos montes, alguns já na água, outros ainda amontoados em torno da fogueirinha acesa sobre a areia branca e fina, que de tão fina o vento carregava com facilidade, formando dunas aqui e ali.

Entre os surfistas havia também algumas garotas, saradas, bonitas e muito femininas. Elas não eram notadas pelos surfistas, todos estavam ali para apreciar as ondas, para observar as manobras dos manos.

Encontrava-me um pouco distante, em pequena barraca, estava ali para descansar, para fugir da balburdia da cidade. Era a primeira vez que fazia isso. A barraca era nova, cheirando a plástico e foi com sacrifício que consegui armá-la. Ninguém veio ajudar-me, eu não fazia parte daquela praia.

Corria um silêncio sonolento, era noite e a garotada gostava de surfar no escuro. Os que estavam ao redor da fogueira pouco falavam, mas o vento conseguira trazer até mim suas vozes.

Uma delas me encantou, sua voz era como um mavioso canto, delicada e as palavras saíam de sua boca pausadamente. Eram palavras desconexas, mas os que a ouviam demonstravam que estavam entendendo o que ela dizia. Uma ou outra vez, alguém, concordando, falava:

- Legal brother, tudo em cima!

E ela completava, - maneiro!

Esse diálogo me intrigava. Como uma pessoa pode se comunicar com palavras de pouco significado?

Não encontrando resposta, dirigi-me para mais perto da turma. Ao todo eram dez garotos e três ou quatro garotas, com idade variando de 16 a 20 anos, só reparei naqueles que estavam sentados na areia. As atitudes dos mais velhos eram seguidas pelos mais novos. Pareciam máquinas programadas.

Procurei distinguir pela voz a garota que chamara minha atenção. Cabelos compridos, soltos, pele muito branca e olhos verdes e grandes. Rosto pálido, alta, esbelta. Estava vestida com minissaia, que deixava suas longas pernas quase todas de fora, mas usava biquíni ou maiô por baixo, porque ela não se preocupava em se proteger quando se mexia ou trocava de posição.

Ninguém havia notado a minha presença. Fiquei por bom tempo observando-os. Meus olhos sempre paravam sobre aquela garota. Ela devia ter uns 18 anos.

Eu pensava: estou com 28 anos, boa diferença. Como pratico esporte, tenho boa estrutura física, bastante resistência e aparência jovial, entre mim e ela a diferença não aparentava tão grande, só na aparência, na realidade era diferença considerável, principalmente por se tratar de uma adolescente ainda.

Em dado momento, nossos olhares se encontraram. Tentei desviar o meu, foi impossível, já que ela me encarava firmemente. Senti arrepio, era noite de vento frio e naquele momento uma rajada soprou em minha direção. Enrijeci todo o corpo e um tremor percorreu-me dos pés à cabeça. Tentei controlar-me, já era tarde, ela sorria para mim de modo engraçado, fazendo pouco da minha situação. Fique sério por alguns instantes, depois caí na gargalhada.

Todos me olharam de modo reprovativo, consegui quebrar o encanto daquele momento. Afastei-me passo a passo, sempre olhando para eles e não notei que havia um tronco de coqueiro estendido no chão. Caí todo desajeitado, a areia colou nas partes expostas de meu corpo e eu não sabia mais o que fazer.

Ela veio em meu socorro, estendeu sua mão direita em minha direção e me puxou, demonstrando ter bastante força. - O que você está fazendo por aqui a essa hora? E nessa praia?

- Por quê? Perguntei rispidamente. Por acaso é proibido passear à noite pela praia?

- Não é isso, disse ela. A esta hora só vem para cá surfista e mais ninguém.

- Estou acampado naquela barraca – disse-lhe, agora mais controlado. Estou estressado do trabalho e da cidade, procurei um lugar calmo para descansar. Como há casas de pesquisadores por perto, creio ser seguro ficar por aqui.

- É, essa praia é bem segura, como disse, não aparece viva alma por aqui. Por isso que nossa turma escolheu este lugar, além, é claro, das boas ondas para surfar.

- Você é surfista?

- Não, só acompanho a turma. É que não gosto de tomar sol, embora goste de praia, assim, venho tomar banho noturno, principalmente em dia de lua cheia. Tenho medo que minha pele sofra pela ação do sol. Normalmente, uso protetor solar quando sou obrigada a me expor ao sol, por isso sou uma notívaga.

- Já não tenho esse problema, sempre pratiquei esporte ao sol, mas também gosto da noite, principalmente de curtir uma balada.

O resto da noite passamos conversando, tentando nos conhecer. Ela perguntava sobre minha vida, se casado, se tinha filhos, profissão, se gostava de viajar, de ler, minhas manias, ela não parava de perguntar. Eu respondia a tudo o que ela queria saber, suas expressões faciais me encantavam a cada novo gesto, nova careta quando a resposta não era de seu agrado. Às vezes eu caía em contradição, ela prontamente me corrigia, mas nada que comprometesse nossas descobertas recentes, estávamos descobrindo-nos um ao outro.

Já de madrugada ela me convidou a um passeio pela beira-mar. Chegamos até onde a água do mar retorna para formar novas ondas. Começamos nossa caminhada, procurando manter os pés sempre molhados, apesar da água bastante fria. Ela graciosamente jogava água para cima com os pés. Andávamos em passos bem lentos, nada de pressa, a brisa tocava em nossos rostos, mantendo-os úmidos e frios. Por causa do frio, as maçãs de seu rosto ficavam cada vez mais rosadas, retirando delas a palidez que eu havia observado lá na fogueira. Seus lábios sem pintura, vermelhos intensos, sobressaíam naquele contorno de rosto suave e expressivo. Quando sorria, deixava transparecer perfeita arcada dentária, dentes alvos e fortes.

Ao passar pela minha barraca, apontei dizendo que era lá que eu estava dormindo; uma barraca para dois. Depois de andar quase dois quilômetros, ela pediu para voltarmos. Fizemos a volta e iniciamos nosso retorno. Delicadamente ela segurou a minha mão e, calados, chegamos à frente de minha barraca, que estava armada na parte mais alta da praia, por causa da maré.

- Vamos até lá, disse ela apontando para a barraca. Quero conhecê-la, completou.

- É muito pequena, disse eu – só cabem duas pessoas e mesmo assim, sem conforto.

Abri a barraca, entramos e sentados continuamos nossa conversa. Aos poucos o cansaço foi nos abatendo, recostamos sobre o saco de dormir e ficamos calados até o sono tomar conta de nossos corpos, eram aproximadamente quatro horas da madrugada.

Fomos acordados sob sol intenso, fazia calor, a praia estava deserta, nada de surfista, nada de fogueira, não havia ninguém por aquelas bandas, também era uma segunda-feira, dia de trabalho, as jangadas e os pescadores já se haviam feito ao mar, em busca do sustento diário, os peixes do milagre, que depois de pescados e divididos sobrava pouco para cada um. As casas dos pescadores, todas com suas portas cerradas, as mulheres haviam ido para as casas dos patrões arrumar a bagunça que sempre fica em casa de praia após longo feriado, com muita gente como hóspede. As crianças na escola. E ali, só nós dois, uma praia só para nós!

Não respeitando os próprios hábitos, ela correu para a praia, antes deixando cair seu biquíni, primeiro a parte superior, já próxima à água, a parte de baixo, a minissaia já havia tirado antes de dormir, por causa do calor dentro da barraca fechada.

Fiquei boquiaberto, nunca tinha presenciado cena tão espontânea. Respirei fundo para recompor meu equilíbrio. Olhei na direção dela e percebi que ela me chamava. Corri em sua direção, e tomado pelo entusiasmo, atirei o short que usava para longe, para o lado da areia firme. Após alguns saltos para vencer as ondas que teimavam em quebrar aos meus pés, consegui alcançá-la. Agarrei-a firmemente, no que fui correspondido. Ávido, procurei a sua boca e não encontrando resistência, minha língua foi em busca da dela. Ela também me segurava firmemente e ambos conseguimos o equilíbrio de que precisávamos para a penetração. A cada urro dela eu penetrava meu membro mais profundamente, mais violentamente, mais desejosamente. Estávamos tão firmes, agarrados um ao outro que nenhuma onda conseguiu nos derrubar.

De repente, uma explosão; ela começou a gritar e a gritar alto, palavras desconhecidas para mim. Não me preocupei, minha vontade era de gritar mais alto ainda. Palavras que todos os amantes conhecem: estou gozando, estou gozando gostoso! A cada espasmo a sensação de profundo êxtase aumentava. Ela desfalecia, seus gritos e a força com a qual me apertava a deixaram fraca, ela também nunca havia experimentado gozo de tal magnitude, me confessara depois. Fraquejamos e uma onda mais forte nos tirou do equilíbrio, caímos e fomos levados pela onda até a beira da praia.

Ficamos deitados por muito tempo, ambos completamente nus. O sol a pino, vozes de crianças ouvíamos aproximando-se, as crianças estavam de volta da escola escoltadas por suas mães, carregando pequena trouxa na cabeça, lavadas na casa do patrão, com a água e o sabão do patrão. Todas passadas a ferro usando a energia do patrão. Regalias que elas mesmas se davam pelo baixo salário que recebiam.

Mais do que depressa vestimos nossos trajes de banho, corremos para a barraca e ficamos aguardando que todos entrassem em suas casas. Desmontei a barraca, coloquei-a no saco apropriado, apanhamos nossos pertences e nos dirigimos ao carro que eu havia deixado estacionado sob uma mangueira frondosa, no terreno ao lado da casa de um pescador. No caminho de volta para casa paramos para almoçar e aí percebi que minha acompanhante estava bem queimada do sol, mas sem nenhuma marca de biquíni. Estava mais linda do que na noite anterior. Fiquei olhando-a insistentemente, até que ela abaixou a cabeça e, aparentando envergonhada, perguntou: - O que você está olhando? Estou feia, por acaso? Não me olhe assim que fico com vergonha.

- Não, você não está feia, retruquei. Você está linda, este bronzeado a deixou mais bonita ainda.

Ela nada mais falou, percorremos todo o percurso até o centro da cidade sem falarmos uma só palavra. De repente ela gritou:

- Pare logo depois do sinal, vou descer em frente ao mercadinho.

Ao chegar ao mercadinho parei o carro, ela abriu a porta, pegou seus pertences, olhou para mim, sorriu e bateu a porta. Atônito, com a reação da garota, não reagi. A rua estava movimentada, carros vindo e indo, muita gente no passeio, eu não poderia abandonar o carro para ir ao seu alcance. Ela desapareceu na multidão, nem seu nome fiquei sabendo, acho que não perguntei, e se perguntei não consegui gravar, foram horas tão cheias de movimentos, surpresas e atitudes inesperadas que pouco de tudo aquilo ficou gravado em minha mente. Somente aquele momento na água não me saía da cabeça, foi mágico, foi estonteante.

Uma coisa eu tenho certeza, poderei encontrá-la naquela praia, principalmente em dia de lua-cheia.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 14/03/2012
Reeditado em 23/03/2012
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