o vento não levou...
Novela naquele tempo não era artigo popular eram vistas como entretenimento para mulheres, isso para camadas menos favorecidas da sociedade, de modo que meu pai olhava de lado quando a sala ficava povoada de mulheres, às vezes vizinhas que ainda não tinham aparelho de televisão e as de casa, reunidas para esquecer suas vidas por algum tempo. E eu que passava ao lado da vida via essa cena de um canto esquecido. Numa daquelas noites foi assim, de madrugada me pareceu oportuno ligar o aparelho que mais me parecia um dispositivo para comunicação extraterrestre. Fiz isso acreditando que fosse um sonho, me parecia ser o horário da novela e que todos tinham esquecido disso, tinha que avisar a todos mas antes conferir se aquelas pessoas estavam vivendo o que tinha prometido na noite anterior. Uma luz amarela invadia uma das janelas que fora deixada aberta, a brisa soprava de um ângulo mais obtuso da terra. Do escuro ecrã surgiam pontos luminosos incandescentes que formaram uma imagem muito impressionante. No conjunto a cena de uma mulher vestida de longo vestido branco, chamuscado pelo fogo que fazia arder tudo em volta, ela restara ao lado de uma grande árvore no alto de um morro, sua voz ergueu para o céu um lamento e se pôs firme ao dizer, como se armada de lança e escudo, Jamais passarei fome! Há muito tempo trago essa lembrança que o vento não levou...