Carnaval
De repente, a sala foi invadida de fantasias.
Eram baianas, Supermans, Colombinas e Carlitos de diversas cores. Cada um buscava remédio para sanar suas próprias dores no Pronto-Socorro. Médicos e enfermeiras mostraram-se perdidos naquela confusão inesperada de paetês e serpentinas.
Uma baiana em crise de nervos, histericamente desesperada, gritava pela perda de seu tabuleiro, e outras, solidárias, choravam junto, tal um coro grego.
Dois Supermans em coma alcoólico precisavam, com urgência, tomar soro glicosado.
Sete Colombinas, nas cores do arco-íris, zanzavam para cima e para baixo. A van em que elas estavam tinha capotado, mas (graças a Deus!) ninguém se feriu gravemente. Apenas sofreram escoriações diversas, mas como nenhum Arlequim as acompanhasse, batiam as cabeças uma às outras, mais parecendo baratas tontas.
Um Carlito alto, magro e negro apoiava outro Carlito, baixo, gordo e branco, que tinha ferido o pé numa garrafa quebrada e sentia os cacos de vidros tragicamente penetrarem sua pele.
Uma mulher titanicamente gorda era carregada – com dificuldade – por cinco homens parrudos e um anão. A maquiagem dos olhos pintados em branco e preto derretia gota a gota, formando lágrimas cinzentas a escorrer sobre a papada flácida, até se estilhaçarem no chão. De sua boca saia uma gosma amarelada, como se tivesse comido pão com ovo mole.
Um velho trajando fralda de bebê gigante e de toquinha de babadinho mal respirava, em crise asmática. A chupeta do neném quem segurava era uma jovem fantasiada de babá sexy, que tentava consolá-lo, enquanto exigia que a enfermeira o atendesse, dando prioridade aos maiores de sessenta e cinco anos, conforme determina a lei.
Ainda não era meia-noite, e a sala do Pronto-Socorro já estava empilhada de fantasias, dores e aflições.
– Será uma longa noite adentro – profetizou, sentado num canto perto da porta do banheiro, um Pierrô roto, agarrado à sua garrafa.