ARARUNA
Olho à minha frente uma linda senhora, chamou-me atenção. Tão delicada, unhas pintadas, sobrancelhas bem feitas, pele alva, cabelos brancos feito nuvens de algodão.
Encontrei-a em um abrigo particular, que agora chama de seu lar, convidei, vamos assistir a peça que o nosso grupo veio apresentar, mas ela com sua voz suave e educada, respondeu: "Não quero".
Insisti: "Vamos, viemos trazer um pouco de alegria."
Respondeu ela: " Não pra quê alegria não tenho motivos para tê-la!"
Perguntei-a: "Porquê?"
"Não queria estar aqui e sim com os meus filhos, que são quatro, não sei porquê me colocaram aqui, porquê fizeram isso comigo". Falou com seu semblante baixo: "Rezo todos os dias, aqui na igrejinha, para que Deus tire essa dor, essa mágoa do meu coração, mas , ela não sai. Minha dor é profunda, corrói minha alma, sei que só vai passar quando eu morrer, e peço a Deus, a cada amanhecer que me leve, pois não tenho nenhum motivo para viver".
Fiquei com o coração apertado, ao ver aquela senhora calma, culta, delicada, mas com sua alma acabada, estraçalhada...
Falou: "Eles tiraram tudo que eu tinha e me colocaram aqui, ao descobrirem que eu estava à procura de um kit net para morar. Agora só um vem me visitar, mesmo assim, são poucas as vezes."
Disse-lhe: "Tenho dois, um casal espero que um dia, não façam o mesmo comigo". Ela delicadamente falou: " Espero que não aconteça".
Tentei anima-lá dizendo: "Se colocarem, espero que venham pelo menos me visitar e quero ficar igual a senhora, linda, com cabelos brancos e sobrancelhas bem feitas".
Rindo agradeceu e disse "Espero que os seus filhos, não façam o mesmo que os meus".
Continuei à conversar, e ao mesmo tempo, observando outros tantos que ali se encontravam, com ar de tristeza e melancolia, em seus rostos refletiam solidão e dor.
Fiquei pensando porquê os filhos depois de criados, formados, jogam seus pais em abrigos, asilos, se tanto amor receberam de seus pais?.
Os tornam descartáveis, mas tudo na vida tem o seu retorno, quem sabe um dia não pagarão com a mesma moeda, e sentirão na pele quão ruim e cruel, é o abandono.
Ao término da peça à procurei em todos os vãos, encontrei-a lanchando, abracei, beijei aquela nobre senhora que aos 87 anos, apesar do seu sofrimento, consegue ser tão lúcida, amável, meiga, doce, gentil. Nela senti meiguice, não enxerguei motivos para deixá-la naquele abrigo.
Só sei que prometi voltar, alegre ela ficou, me abraçou e chorou. Lágrimas caíram pelo seu rosto branco...
Lá com certeza, voltarei e lhe abraçarei, não tenho dúvidas, lá estará à minha espera...
Seu nome guerreiro,Araruna.
O nome Araruna, vem do tupi A'rara una, que significa Arara preta, o seu nome tem sentido, por encontrar-se no vazio, na tristeza, na escuridão sem alegrias para viver. Sua vida agora tornou-se preta, apesar de sua pele branca...
AQUI DEIXO MINHA MENSAGEM: FILHOS, FILHAS AMEM SEUS PAIS, RESPEITE-OS DAÍ A ELES AMOR, TERNURA, CARINHO, BEIJOS, ABRAÇOS. É DISSO QUE ELES PRECISAM, NÃO DE SEREM EXCLUÍDOS, DE SUAS VIDAS COMO SE NADA SIGNIFICASSEM, "NADA", É ASSIM QUE SE SENTEM.
MARIA JOSÉ 04/03/2012.