OS INQUILINOS
A noite é de verão estrelado.
O silêncio da noite brinca de esconde-esconde com a brisa
da laguna. E eu sigo meu passeio noturno entre plátanos e figueiras
centenárias, que durante o dia acolhem o riso, a alegria ou a
conversa dos que passam. Ah, mas à noite eles abraçam, protegem
e cedem seus galhos para o repouso da passarada e de algumas
corujas caburé. Volto para casa entre os holofotes dos carros que
passam pela avenida perfumada pelos jardins da vizinhança.
Retomo minha leitura entre meus lençóis, a tranquilidade me
leva e nem percebo que a madrugada vira página por página de meu
livro.
Toc, toc, toc, não posso deixar de sorrir, eles estão saindo
para caçar ou coletar alguns alimentos, já estava achando demora!
Há vários meses que alguns gambás transformaram o forro da
casa onde passo os fins de semana em moradia. Fico imaginando
quantos serão, será um casal com sua trupe de filhotes? Pelo que
sei, eles não possuem hábitos familiares, a não ser no período da
reprodução. A barulheira permanece. O toc, toc, toc e os grunidos
seguem por várias horas.
O sono toca sua sineta avisando que a leitura acabou por
hoje. Obedeço apagando a luz do abajur e me entrego inteira aos
sonhos.