Pecado novo

Voltava pela madrugada caminhando por uma rua sem calçamento, na verdade não sabia direito por onde andava, não tinha pratica de sonhar, não nestas noites sem lua, sem paixão.

Nenhum gênio apareceu, não tinha lâmpada, nenhuma esperança, tudo estava muito sem sal e meus pés doíam, culpa daquele sapato novo.

Preciso de um sonho esta noite, mas nada consegui até agora e resolvi caminhar sem destino e acabei indo por algumas ruas desconhecidas.

Virei uma esquina e junto dela virei a vida, dei de cara com uma mulher, ela caminhava como eu, sozinha e sem destino, voltou quando me viu, indo em direção contrária, apertei o passo até alcançá-la.

-Boa-noite!

-Que boa noite que nada. Respondeu ela quase sussurrando:

-Posso ir junto com seus sonhos ou ajudá-la a encontrá-los? Continuei...

Ainda não tinha enxergado seus olhos, usava um capuz e uma longa capa preta, seus passos eram firmes, como de quem estava com raiva, pisava forte nas pedras fazendo o barulho ecoar no fim da rua.

Caminhamos um longo pedaço em silêncio, até que ela perguntou: -Vai mesmo vir comigo?

Respondi que sim e continuei em silêncio até que paramos em frente a um prédio comercial, ela perguntou se eu queria subir, eu não fiz perguntas, só disse que sim e lá fomos, abriu a porta da frente com sua própria chave, ao entrar no saguão apenas com um gesto de cabeça cumprimentou um segurança.

Pelos corredores ela tirou o capuz, loira, olhos castanhos bem fortes, as mãos saíram das luvas, suas unhas perfeitas em um vermelho quase vinho, os cabelos bem cortados e despenteados, mas ainda continuava perfeito, não sei ao certo, mas parecia bem arrumado apesar do capuz.

Paramos frente uma porta de vidro, tinha um logotipo da empresa, não fiz perguntas, apenas segui junto, não sei ainda porque, mas continuei, afinal nada tinha a perder, nada a ganhar. Era apenas uma madrugada e eu sozinho em uma rua sem calçamento ao longo de horas a caminhar. Sem nem ao menos um lugar, um abraço, um endereço para voltar outro dia.

Não falou seu nome, não perguntou o meu, abriu mais uma porta, estávamos agora na sala da presidência, sei, porque li na porta, seguíamos sem palavras a um destino ignorado.

O escritório era de luxo, cadeiras executivas lindas, poltronas, sofás, um bar no canto de uma janela coberta por uma cortina ouro e preta, nas paredes fotos de muitos homens e no final uma foto de mulher, mesmo estilo de moldura, mesmo tamanho de foto, presumi que ela era executiva, mas não disse nada, ela tirou a longa capa, sentou-se em um sofá longo.

Ficara a mostra uma mulher linda, um vestido preto com brilhos, próprio para festas à noite, suas pernas se cruzaram com perfeição, não deixando nada a mostra, percebi que era uma mulher com uma boa educação e atitudes firme, certa dos seus intentos e desejos nesta e ou em qualquer outra hora.

Convidou-me para sentar e ao mesmo tempo levantou e foi para o bar, pegou dois copos, jogou gelo e um tanto de alguma bebida, não percebi o que era, nem me interessou porque não ia mesmo beber.

Voltou e sentou-se ao lado, bem junto, entregou-me o copo, devagar escorregou sua mão por entre minhas pernas, encostou seus lábios aos meus e perguntou...

-Que tal um pecado novo?

Não sei o que respondi, deixei-me levar pela situação, meus abraços agasalharam seu corpo, os lábios se encontraram lentamente. Era dona de um apetite voraz, aos longos dos beijos foram desaparecendo roupas dos corpos, bebidas dos copos, todos dela, eu só fazia de conta.

Cruzamos a madrugada conhecendo mesas, sofás, cadeiras e mais alguns lugares próprios para fazer amor. De repente tudo em silêncio... Ela apagou ainda estava em meus braços, amoleceu seu corpo, eu a recostei devagar naquele enorme sofá, ainda nua, acomodei-a e cobri com sua capa preta.

Também devo ter adormecido em seguida, passaram-se algumas horas e sou acordado por um segurança: -Ela pediu para você se tomar banho e se trocar, sua roupa está pronta noutra sala.

Atravessei aquela grande sala e entrei por outra porta, dei de cara com um apartamento pequeno, acho que próprio para emergências do presidente da empresa.

Em algumas horas caminhava sozinho em uma rua escura e agora aqui, em uma ante-sala

de uma adorável desconhecida.

Em segundos ela entrou, parecia que nada tinha acontecido, ou tudo, seus olhos ainda brilhavam, também os meus.

Conversamos por algumas horas e combinamos algumas coisas: 1º: Nada aconteceu, 2º: Tudo aconteceu, 3º: Prometemos novos pecados. 4º: Resolvido, vamos ficar juntos.

Ainda trabalho na mesma empresa, não tenho um cargo importante, sou o vice-presidente, parece que os anos voam, mas ainda caminhamos nas madrugadas pela mesma rua, agora com asfalto, luzes e nenhuma mulher às escondidas com capuz e capa preta, apenas eu e ela e a promessa de milhares de pecados novos.

19/01/2007

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 19/01/2007
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