Uma tarde atípica bastante comum
Há duas semanas presenciei a morte de um garoto de rua quando voltava para casa da faculdade, na avenida Principal por volta das três horas da tarde.
Eram cinco meninos entre doze e quinze anos, magros, com roupas rasgadas e pés descalços.
- Ei, tia! Me dá um dinheiro aí! - falou um dele para mim. E ele insistia, aproximando-se mais - Por favor, por favor, dá um dinheiro aí, tia!
- Não tenho! - respondi e fui afastando-me.
Enquanto esperava o ônibus na parada, continuei observando-os. A todos que passavam por eles pediam dinheiro, algumas pessoas atenderam ao pedido do garoto e de seus amigos que haviam se juntado a ele naquele "ofício".
Então, o maior deles aproximou-se do outro e tomou-lhe as poucas moedas. Apesar de ser menor, o garoto roubado pulou em cima do maior e os dois rolaram pelo chão. Seus amigos, ao perceberem, começaram a rir e gritar:
- Molenga! Pega ele, pela ele - como uma platéia de luta livre.
- Me devolve! - gritava o menor.
- Toma! É isso que você vai ter - respondia o maior, negando com todos os pontapés, tapas e socos que podia dar.
Como estavam na calçada, as pessoas começaram a se afastar aterrorizadas, ninguém queria ajudá-las agora. Vi alguém falando ao telefone:
- Polícia! Está tendo uma briga aqui na avenida Principal... Sim, sim...
Foi quando ouvi um estrondo e ao voltar meus olhos, vi uma nova cena. A briga estava desfeita, mas agora um dos garotos estava estendido no chão e um carro parado a sua frente.
Não sei como aconteceu, mas sei que foi o maior deles que ganhou a disputa. Pude avistá-lo fugindo com os outros três. A polícia chegou minutos depois e não os encontrou. O garoto não resistiu e morreu ali mesmo no asfalto. As pessoas que antes assistiram a cena fizeram o que podiam fazer... como antes, apenas olhar.
(Loan Vox)