CONTONobre, uma lição de vida – Parte I
 
Difícil é escrever sobre a vida de alguém, notadamente quando o escritor não tem a experiência de fazê-lo, mas tão-somente a coragem de atender a esse pedido que me fizeram... e seja feito o que Deus quiser.

 
CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte I

 
         Domingo tive uma grande surpresa e alegria. É que o Nobre, amigo do Banco do Brasil, que conheci de longa data e que recentemente nos encontráramos no Shopping Center de Boa Viagem, sem qualquer aviso veio a minha modesta casa de praia, logo aqui em Gaibu, litoral sul do Recife, pertinho da refinaria que está sendo criada pela Petrobrás, em Suape, denominada Abreu e Lima. 
       

         Em lá chegando foi logo dizendo, com aquela sua voz pausada: “Vim experimentar do churrasco que seu filho faz e que você me disse que era dos bons, mas só não posso ingerir bebida alcoólica porque, como lhe falei, tenho problemas mais recentes do coração, eis que fui submetido a um implante de marca-passo; além do mais, albergo seis pontes de safenas, uma mamária e dois “stents”. Não quero me suicidar, pelo menos por enquanto”. – Você é quem manda meu caro, respondera.

         Estávamos no quiosque quando ele adentrou, reunidos com a família, filhos e netos (uma parte). Conversa suave, mas com certa firmeza, considerada sua idade, que julgo seja na base dos 70 anos (não quis perguntar), disse-me que iria falar sobre fatos e “causos” da época de sua carreira nos quadros de serviços do banco, que começou nos idos de 1962, um pouco antes da revolução ou golpe de 1964, como queiram.

         Aliás, segundo me dissera, o concurso foi em 1961 -- ano em que conhecera a bela menina Jane, que viria a ser a sua esposa em 1963; logo após a renúncia daquele que chamou de maluco, o Jânio Quadros. Pensavam os inscritos que em face disso não seria o certame realizado, até por conta dos contratempos gerados pela decisão do “homem da vassoura”. A posse do Dr. João Goulart, seu vice, não era tida como certa, pois movimentação militar queria impedir que tal ocorresse, em face de julgar fosse comunista aquele brasileiro de grande valor, que só veio a assumir depois de acordos feitos na alta esfera federal, criando-se o parlamentarismo, que não dera certo. Até o Tancredo Neves, que era um emérito articulador, participou desses eventos e fora um dos que mais se destacou, tudo com a finalidade de manter a democracia. Viria ele a ser o primeiro ministro.

         Mas todos os políticos e brasileiros dos quatro cantos do país queriam que se voltasse ao regime presidencialista. Pois bem, surgiu a história do plebiscito, cuja campanha saiu às ruas e fora amplamente vitoriosa com larga margem de votos, dando força a que o Dr. Jango, homem do Rio Grande do Sul, das terras do Getúlio, Leonel Brizola e outros grandes líderes, começasse realmente a governar. Embora pouco tempo depois tenha sido deposto, uns acham que por excesso de liberalidade, como ligas camponesas, lideradas em Pernambuco pelo Sr. Francisco Julião, amigo do Governador comunista, Dr. Miguel Arraes (que não eram piores do que o MST de hoje), rebelião de cabos e sargentos, etc.

         Trabalhava ele, o Nobre, um belo dia, numa empresa de representação de uma charqueada (venda de carne de charque), no bairro do Recife, mais precisamente na Praça Artur Oscar, perto da Capitania dos Portos. Já abusado de comer charque com farinha, no próprio emprego, quase diariamente, no almoço, decidira nesse dia ir almoçar em casa, não que lá fosse grande coisa. Mas onde o dinheiro da passagem? Criou coragem e pediu a seu chefe, Sr. João Gomes, que lhe o emprestasse pra que pudesse pagar a passagem do ônibus.

         Pois bem, em lá chegando foi, de cara, recebendo uma boa “chamada de seu pai”, que o tratava de meu galego: “Olha, antes de almoçar queira me explicar essa história de aqui terem chegado duas cartas pra você, uma do Banco do Brasil, outra da Shell, grande companhia petrolífera estrangeira”. “Será que você está passando cheques sem fundos”?  Não se poderia imaginar outra coisa e nem o próprio Nobre estava tão ligado no assunto. Mas, em poucos instantes, lembrara de que havia feito o concurso do banco e também o da Shell, com reduzidíssimo número de vagas. Abriu os envelopes. Espanto geral, todos pulavam de alegria. Havia passado nos dois testes e acabara de ser convidado por ambas as empresas para trabalhar em seus quadros!

         Voltou ao trabalho à tarde. Contou a todos os colegas, que ficaram boquiabertos. O patrão, que era um português, Sr. José Amaral, foi logo entrando na conversa. Pediu para que ficasse na firma, que ele iria melhorar seu salário, oferecer melhores condições, etc. Mas não logrou êxito, o Nobre estava decidido. Foi aos escritórios da Shell, fez ver aos chefões do que havia acontecido, recebeu insistentes apelos para ficar, pois suas provas foram as melhores, tanto que só havia uma vaga e ele conseguira. Depois de vários pedidos, disse que tinha um verdadeiro sonho de pertencer aos quadros do banco. Agradeceu a todos e, na hora de sair, ouviu a promessa de que em caso de arrependimento ou de não dar certo que poderia contar que seu lugar estaria garantido naquela multinacional.

Continua no próximo texto.
Em revisão.

Limoeiro ainda usava o saudoso Bonde de Burro.


Ansilgus
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Enviado por ansilgus em 23/02/2012
Reeditado em 03/04/2023
Código do texto: T3514473
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