O gato da Ritinha – digo o Alfred
Haroldo e Ritinha travavam uma discussão acirrada no telefone:
- Não adianta reclamar Haroldo. Toda a minha família está de acordo com o término do nosso namoro – a mamãe, a papai, a titia e é claro o Alfred.
- Mas Ritinha, terminar apenas porque a porcaria do seu gato – digo o Alfred não gosta de mim?
- Não é só não gostar Haroldo. Ele te rejeita. Os gatos têm intuição apurada e podem ver o lado oculto das pessoas. Nunca ouviu falar disto?
- Ah meu Deus. Não, nunca ouvi falar. Acho que o fato do seu gato ir pra debaixo da cama da sua tia, toda vez que eu entro na sua casa se deve ao fato de ele ser um gato tímido, só isto. Um gato tímido e mimado.
- Haroldo não grite assim, e não fale assim do Alfred, afinal ele é um gato da Tailândia que a titia trouxe e já vive conosco há mais de cinco anos. Conhece a família como ninguém.
- Conhecer !?! pois fique sabendo que o seu gato fedorento – digo o nobre Alfred, além de tímido, mimado é um velho gagá. Isto mesmo, nunca ouviu que os gatos vivem apenas seis ou sete anos e depois passam a vegetar até a chegada da morte.
- Ah, você e suas fantasias Haroldo.
- Mas é isto mesmo Ritinha, veja que o Alfred já está dando demonstrações e sinais claros de esclerose múltipla e não tem mais coerção nos pensamentos. Esta como aqueles idosos avançados que não entendem o que se passa a sua volta. È triste, mas é a verdade.
- Ah deixa disto Haroldo!
- Mas é isto mesmo querida. Saiu na Superbichos deste mês, gatos com mais de cinco anos de idade, que é o mínimo que o Alfred tem, apresentam paralisia cerebral, perda de visão, olfato e inclusive alucinações.
- Será Haroldo !? não acredito nisto, levei ele no salão ontem e ninguém falou nada disto, nem o veterinário.
- Mas é a verdade Ritinha, eles têm medo de causar sofrimentos aos donos de seus bichinhos. Tenho um amigo que é veterinário e até mesmo confirmou esta versão, quando relatei que o Alfred costuma fugir da sala quando chego. Ele disse que não se deve dizer aos donos que seus bichinhos já estão velhos. Seria preconceito contra a idade avançada, direitos humanos para os bichos, entendeu que o Alfred é um velhinho gagá, e esta tendo alucinações?
-Aaaaaaaaahhhhhhhhh, o Alfred, pobre Alfred......
- Não fique assim minha querida. Olha podemos encaminhar o Alfred para um asilo da gatos, isso mesmo, um asilo de gatos. Lá ele terá companhia. Terá pessoas, digo gatos como ele, tratamento digno e além disto, você poderá visitá-lo nos finais de semana.
- Ah não sei não Haroldo, asilo de gatos, o Alfred num asilo?
- Vai por mim Ritinha, devemos cuidar do virtuoso e memorável Alfred, com tudo o que ele merece, e um asilo é uma ótima opção.
-È pode até ser, bem que eu estava reparando que ele andava meio cabisbaixo pelos cantos, olhar distante, nem se alimentava. Pobre Alfred. E agora que será de mim sem o Alfred?
- É triste Ritinha, mas vamos superar isto juntos, pode contar comigo.
- Ah Haroldo, obrigada, não sei o que faria sem você. Não sei como demorei tanto para ver como você é tão amável e gentil.
- Não há de que querida. Não fiz nada demais, a não ser zelar pelo bem do Alfred. Tudo pelo nosso carismático e amado Alfred.
- Sim, sim, tudo pelo Alfred.
-Só mais uma coisa Ritinha.
-Sim Haroldo, sim meu querido.
- É sobre o tempo restante de vida do Alfred. Existem alternativas terapêuticas para minimizar o sofrimento do Alfred neste final de vida, vai ser duro, mas será para o bem dele. Estou com tudo preparado para o finado – digo para ativo e grandioso Alfred sofrer o menos possível.
- Como é que é Haroldo???!?!!?
- È, pode deixar comigo...