O MOMENTO DE ALGUÉM
Aí, ela tomou coragem e entrou na casa. Parou e com cuidado, olhou os cômodos. Pareciam bem maiores que antes. Sentiu um vazio estranho. A sua frente a poltrona vermelha, a mesma, testemunha de tantos momentos, de tantos carinhos, de tanta intimidade. Logo depois, a mesa e as cadeiras, como sempre arrumadas como se esperando os almoços, jantares e leituras.
Pensou um pouco. Ouviu vozes no pensamento. Pensou em desistir, mas precisava continuar. Continuou. Foi até a porta de madeira a direita da sala. Forçou-a até abrir. Deu de cara com a cama. A mesma cama que se fez mulher tantas vezes. A cama, palco do prazer e da cumplicidade.
Foi até o guarda roupas e ao afastar uma das portas, sentiu um vento que trouxe um perfume familiar. Precisou de coragem para ver o que já sabia, mas até então não admitia; e... chorou. Chorou compulsivamente. Gritou a dor, até então contida no peito.
E assim ficou, em frente aquele lado do móvel... agora... vazio.