Fim da linha

De pé, peito estufado e ar superior, o jovem conseguiu achar alguma graça. Deitado no asfalto quente, lá o corpo estava.

Parou bem próximo e analisou cada parte do morto. A praça estava cheia. Ninguém mais se importava. A graça de outrora cedeu espaço para o desconforto iminente.

Dois policiais passavam ao largo, um casal de velhos fez menção de olhar, um garotinho cutucou a mãe. A vida é finita, pensou. Longos minutos acompanharam aquelas duas almas em situações apostas. Vida e morte, futuro e passado.

Foi quando um trabalhador chegou, vestido dos pés à cabeça com um uniforme laranja, grandes instrumentos à mão. Parou frente ao rapaz, olhou-o sem mistério, agachou próximo ao morto. Pegou-o sem cerimônia pela asa, passou os dedos em suas penas, antes de arremessá-lo dentro do latão da mesma cor de sua roupa. Deu de ombros e se foi. Sinal verde para o outro também ir embora e seguir a vida. A morte já ficou banal.

Livia Torres
Enviado por Livia Torres em 16/02/2012
Reeditado em 16/02/2012
Código do texto: T3503593
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