Fim da linha
De pé, peito estufado e ar superior, o jovem conseguiu achar alguma graça. Deitado no asfalto quente, lá o corpo estava.
Parou bem próximo e analisou cada parte do morto. A praça estava cheia. Ninguém mais se importava. A graça de outrora cedeu espaço para o desconforto iminente.
Dois policiais passavam ao largo, um casal de velhos fez menção de olhar, um garotinho cutucou a mãe. A vida é finita, pensou. Longos minutos acompanharam aquelas duas almas em situações apostas. Vida e morte, futuro e passado.
Foi quando um trabalhador chegou, vestido dos pés à cabeça com um uniforme laranja, grandes instrumentos à mão. Parou frente ao rapaz, olhou-o sem mistério, agachou próximo ao morto. Pegou-o sem cerimônia pela asa, passou os dedos em suas penas, antes de arremessá-lo dentro do latão da mesma cor de sua roupa. Deu de ombros e se foi. Sinal verde para o outro também ir embora e seguir a vida. A morte já ficou banal.