A Cidade das Crianças Esquecidas

A Cidade das Crianças Esquecidas

Jorge Linhaça

Existe uma certa cidade, envolta em triste neblina, que nem deveria existir, se não fosse o nosso esquecimento.

Nessa cidade, oculta dentro de tantas cidades, a população é formada por crianças e adolescentes que, abandonados e esquecidos, vagueiam numa espécie de limbo entre a realidade e a ficção, como numa zona morta, tal e qual fantasmas pelos quais passamos sem enxergar.

Não são fantasmas nem espectros, ao menos não daqueles que estamos acostumados a ver em filmes de terror, apenas não fazem parte de nosso foco e pro isso olhamos como que através deles como se fossem uma vidraça esfumaçada.

Não vemos seus olhos tristes, não percebemos as suas dores.

Para nós são menos do que mais um objeto em meio à paisagem do dia a dia.

Essa legião de esquecidos vagueia entre a multidão, vestida de andrajos sujos e molambentos , esperando que em algum momento alguém se d~e conta de sua existência e faça mais do que lhes dar um simples trocado para aplacar a própria consciência.

São a legião da inocência perdida, sobrevivendo por entre a neblina de olhares cheios de cataratas sociais.

Um dia interroguei uma dessas crianças , uma no meio de tantas outras e perguntei o que ela via quando olhava para a multidão que passava por ela sem a notar.

Ela respondeu-me, fitando-me no fundo dos olhos, com um sussurro que fez lembrar aquele filme..." O sexto sentido "

-Eu vejo uma multidão de gente morta....e seguiu o seu caminho.

Dei-me conta de que, quem vive na neblina somos nós.