O Restaurante Florido
A barriga oca aguçou bem cedo os seus instintos, família aglomerada em um vão com olhos famintos, pedaço de chão que ele chamava de lar, Serafim era um dos seis magérrimos filhos, de um casal sem eira e nem beira brutal destino, um caixote de lustrar sapatos o seu amigo mais íntimo, leal e confidente a lhe acompanhar, todos os dias eram o mesmo martírio, trabalhar para comer um dia, quiçá cruel desígnio, é o conto que nesta noite hei de poeticamente contar.
Menino franzino, passos descompassados, labor destemido, quando a aurora anunciava um novo dia, Serafim já estava de pé, com seis anos de vida, saía em busca de uma sobrevida, mesmo sem saber ao certo o que seria mesmo a vida, essas filosofias ele não tinha tempo para questionar, a fome era sua bússola, o seu norte mais doído, lavava o rosto e ia para frente do “restaurante florido”, não sabia o que lá serviam, mas, com seus dedos pequeninos a lustrar dezenas de sapatos conseguia se sustentar, ao voltar para a casa, entregava aos pais o dinheiro sambado, que no caixote jazia minguado, era pouco, mas, era o que ele podia arrumar, face suada, mãos engraxadas cansadas, naquela noite haveria jantar no lar, trabalhava de sábado a domingo, sem descanso, sem saber o que é brincar, algumas vezes eu o avistava distraído, olhando para as crianças coradas e sorrindo, que com suas algazarras atraíam o seu olhar, mas, no mesmo instante ele voltava ao seu constante ritmo, a clientela era certa naquele lugar, ele chamava de “restaurante florido”, ao lado dalí em um banquinho polido de madeira doada, o seu ofício era o não sonhar, horas a fio sentado, o engraxate tão pequenino, uma pequena almofada desbotada aliviava a sua fadiga, cena mesclada ao odor da boa comida, com aperto no peito, eu represava o meu chorar.
Tenho uma banca de jornais em frente ao “restaurante florido”, há dois anos vejo o anjo mais lindo, que mesmo alado não consegue voar, Serafim, menino aguerrido, os seus irmãos se tornaram todos bandidos, a sua missão era ajudar no sustento do lar, véspera de Natal lá estava o pequeno sofrido, calos nas mãos, lustrando e polindo, foi quando então decidi me aproximar, Serafim sorrindo me olhou descontraído, com papel e caneta em punho o pedi para ele ditar, mesmo que fosse um tão só singelo pedido, que ao Papai Noel eu iria entregar, despertei nele um sorrateiro sorriso, como que naquele instante a criança houvesse surgido, e que em meio ao lúdico, enfim, pudesse sonhar.
O conto com rimas foi para dar um colorido, tal quais as flores que permeiam aquele lugar, crua sina, do tão jovem e querido, menino sem chances em meio ao “restaurante florido”, as suas sorridentes comoventes letras em papel talvez um último suspiro, de criança adulta, em um adulto que não há. Me chamo Serafim, tenho seis anos, acho que Papai Noel não gosta de mim, ele gosta mais dessas crianças que entram aí nesse restaurante florido, mesmo assim vou fazer meu pedido, mesmo sem saber se vou ser ouvido, pode ser que ele tenha se esquecido dos meus outros, mas, em você eu acredito, diga para ele que não fique bravo comigo, eu gosto de noite de Natal, meus clientes me chamam de meu filho, fazem um afago, é uma noite diferente da normal, sobra mais dinheiro para eu comprar pirulitos, ganho roupas, me sinto mais querido, as senhoras me abençoam e me dão comidas, nesta noite eu encho essa latrina, e lá em casa comemos menos mal, meu pedido que farei entregue e esperarei aflito, espero não ser novamente esquecido, sente aqui que eu engraxo bem legal. Guardo eternamente o pedido, Serafim há anos está sumido, não engraxa mais naquele local, embaço os olhos ao relembrar do pequeno menino, que em um sorrateiro momento único, juntando letras, e sem entender o seu mundo, me ofertou um presente sem igual, talvez as asas daquele anjinho alado, tenham em determinado momento subitamente lhe libertado, resta apenas, o seu pedido de Natal:
Papai Noel, quero que me tragas os sorrisos das crianças que entram no restaurante florido, não é sorriso só de noite de Natal, é um sorriso que não tenho e com mais brilho, ganham até dos sapatos que com afinco eu dou o meu melhor polido, boa noite e tenha um feliz Natal.
Conto solicitado de Natal e publicado na seção destacados do site espanhol poetastrabajando.com mês de dezembro/2011
Menino franzino, passos descompassados, labor destemido, quando a aurora anunciava um novo dia, Serafim já estava de pé, com seis anos de vida, saía em busca de uma sobrevida, mesmo sem saber ao certo o que seria mesmo a vida, essas filosofias ele não tinha tempo para questionar, a fome era sua bússola, o seu norte mais doído, lavava o rosto e ia para frente do “restaurante florido”, não sabia o que lá serviam, mas, com seus dedos pequeninos a lustrar dezenas de sapatos conseguia se sustentar, ao voltar para a casa, entregava aos pais o dinheiro sambado, que no caixote jazia minguado, era pouco, mas, era o que ele podia arrumar, face suada, mãos engraxadas cansadas, naquela noite haveria jantar no lar, trabalhava de sábado a domingo, sem descanso, sem saber o que é brincar, algumas vezes eu o avistava distraído, olhando para as crianças coradas e sorrindo, que com suas algazarras atraíam o seu olhar, mas, no mesmo instante ele voltava ao seu constante ritmo, a clientela era certa naquele lugar, ele chamava de “restaurante florido”, ao lado dalí em um banquinho polido de madeira doada, o seu ofício era o não sonhar, horas a fio sentado, o engraxate tão pequenino, uma pequena almofada desbotada aliviava a sua fadiga, cena mesclada ao odor da boa comida, com aperto no peito, eu represava o meu chorar.
Tenho uma banca de jornais em frente ao “restaurante florido”, há dois anos vejo o anjo mais lindo, que mesmo alado não consegue voar, Serafim, menino aguerrido, os seus irmãos se tornaram todos bandidos, a sua missão era ajudar no sustento do lar, véspera de Natal lá estava o pequeno sofrido, calos nas mãos, lustrando e polindo, foi quando então decidi me aproximar, Serafim sorrindo me olhou descontraído, com papel e caneta em punho o pedi para ele ditar, mesmo que fosse um tão só singelo pedido, que ao Papai Noel eu iria entregar, despertei nele um sorrateiro sorriso, como que naquele instante a criança houvesse surgido, e que em meio ao lúdico, enfim, pudesse sonhar.
O conto com rimas foi para dar um colorido, tal quais as flores que permeiam aquele lugar, crua sina, do tão jovem e querido, menino sem chances em meio ao “restaurante florido”, as suas sorridentes comoventes letras em papel talvez um último suspiro, de criança adulta, em um adulto que não há. Me chamo Serafim, tenho seis anos, acho que Papai Noel não gosta de mim, ele gosta mais dessas crianças que entram aí nesse restaurante florido, mesmo assim vou fazer meu pedido, mesmo sem saber se vou ser ouvido, pode ser que ele tenha se esquecido dos meus outros, mas, em você eu acredito, diga para ele que não fique bravo comigo, eu gosto de noite de Natal, meus clientes me chamam de meu filho, fazem um afago, é uma noite diferente da normal, sobra mais dinheiro para eu comprar pirulitos, ganho roupas, me sinto mais querido, as senhoras me abençoam e me dão comidas, nesta noite eu encho essa latrina, e lá em casa comemos menos mal, meu pedido que farei entregue e esperarei aflito, espero não ser novamente esquecido, sente aqui que eu engraxo bem legal. Guardo eternamente o pedido, Serafim há anos está sumido, não engraxa mais naquele local, embaço os olhos ao relembrar do pequeno menino, que em um sorrateiro momento único, juntando letras, e sem entender o seu mundo, me ofertou um presente sem igual, talvez as asas daquele anjinho alado, tenham em determinado momento subitamente lhe libertado, resta apenas, o seu pedido de Natal:
Papai Noel, quero que me tragas os sorrisos das crianças que entram no restaurante florido, não é sorriso só de noite de Natal, é um sorriso que não tenho e com mais brilho, ganham até dos sapatos que com afinco eu dou o meu melhor polido, boa noite e tenha um feliz Natal.
Conto solicitado de Natal e publicado na seção destacados do site espanhol poetastrabajando.com mês de dezembro/2011