OS ANJOS ESCUTAM AS PRECES INFANTIS
Menino apronta cada uma. A vantagem é que os querubins sempre estão presentes para proteger as traquinagens de infância.
Eu tinha uns nove anos de idade quando sucedeu-se um fato deveras pitoresco.
Morávamos num subúrbio de Curitiba, um bairro proletário, diriam os politizados. Era comum haver um pomar, uma pequena horta e algumas galinhas nos quintais de outrora. Nas madrugadas ouvia-se o cantar dos galos anunciando que brevemente um novo dia iria nascer.
Como nas demais, na minha casa também havia o pomar, a horta e umas duas dúzias de galinhas. Tinha que haver um “controle de natalidade” das galináceas, caso contrário a prole se tornava muito numerosa. Quando as galinhas ficavam chocas costumava-se colocá-las rapidamente na água para que “deschocassem”. Havia aquelas galinhas mais teimosas que exigiam algumas sessões extras de banhos. Certa vez, uma das galinhas ficou choca e não havia meio de fazê-la largar da idéia de ser mãe de muitos pintinhos. Minha mãe me incumbiu de fazê-la desistir da idéia de maternidade. Lá pelo quarto ou quinto banho minha paciência de menino levado já estava meio esgotada. Enchi o tanque de água, coloquei a galinha no tanque e contei até 200. Quando retirei a galinha da água ela estava inerte, mortinha da silva.
Imaginando o castigo que me esperava peguei a galinha e coloquei-a no meio do galinheiro. Pensei que quando a encontrassem imaginariam que a “causa mortis” teria sido um mal súbito ou coisa parecida.
A preocupação, entretanto, não me deixava sossegado. Entre rezas, promessas e orações, a cada 20 minutos eu ia dar uma espiadela na falecida.
Umas duas horas depois, quando fui checar pela enésima vez, eis que para meu espanto a galinha se levantava lentamente.
Era o milagre da ressurreição que acontecia em pleno galinheiro.
Realmente, OS ANJOS NÃO FALHAM COM AS PRECES INFANTIS.