ERA UM ARRASTÃO.
O telefone tocou eram onze horas da noite de uma terça feira de verão. Soninha atendeu era seu ex-noivo Manoel, conversa vai, conversa vem e nada de chegarem a um acordo.
- Mas a gente terminou Manoel, lá se vão três meses e você ainda me liga para contar suas estórias?
- Soninha, você não entende, era um arrastão na porta da sua casa! Estavam armados e eu fiquei preocupado, só isso.
- Manoel é a terceira vez que você me liga nesta semana. Primeiro era uma ambulância que estava parada na porta do meu prédio, depois era um suicida que estava querendo pular de uma janela próxima a minha, agora um arrastão. Tenha dó Manoel, me poupe.
“Ela disse “me poupe, tenha dó”. Adoro quando ela diz isto” “olha que voz linda ela tem, que saudades desta voz” pensava Manoel.
- Mas Soninha era um arrastão com um blindado na frente. Um caveirão negro, só achei que deveria saber do que se tratava!
- Sei, sei Manoel. Olha vamos cuidar das nossas vidas, você tem a sua e eu tenho a minha. Vamos dormir e amanhã é outro dia, certo ?
“Ah esta vontade de resolver tudo na hora, Ela é sempre tão objetiva” pensava Manoel e enquanto seus olhos brilhavam no horizonte dizia a si mesmo: “ Eu me especializei na Soninha, sempre direta e sintética. Acho que já está ficando brava. Há uma pequena ponta de nervosismo na voz dela – eu adoro esta parte” , e disse em seguida:
- Mas Soninha, eu tenho o direito de querer o seu bem, afinal foram dez anos de convívio e de romance, mesmo que tenhamos terminado eu posso querer o seu bem disse Manoel com um tom de autoridade.
- Eu sei Manoel, eu sei o quanto ainda estamos ligados, mas estou bem, muito bem aliás, obrigada pela preocupação.
“Agora foi o tom de voz derretido, este é o melhor” pensava Manoel.
“Acho que na próxima vez ela vai me xingar de intrometido, dizer que me odeia e desligar o telefone”.
- Mas meu bem.....
- O que ? meu bem!? Escute seu intrometido você tornou minha vida um inferno, nos últimos dias com suas mentiras, falou mal das minhas amigas, brigou com minha mãe, bebeu todas no natal e acabou com a festa e fica se fazendo de bonzinho a esta altura do campeonato? Pois eu te odeio, e vou desligar.
“Mas ela é educada, vai se desculpar antes de desligar” Concluiu para si mesmo Manoel.
- Me desculpe, mas vou desligar e não me ligue mais. E desligou o telefone.
“ Esta voz da Soninha, este tom de nervosismo, esta educação, tudo isto me fascina.”
“E agora, meu Deus, o que vou fazer? Ela desligou se foi me deixou.
E agora José? "
Uma tristeza se abateu sobre Manoel como se fosse um recém nascido que tivesse sido abandonado, começou novamente a pensar consigo mesmo.
"Qual a próxima desculpa para ouvir a voz da Soninha. Tenho que achar outra.”
E lá se foi Manoel caminhando pela calçada, pensativo, não sábia o que fazer. Só tinha a Soninha, e não sabia olhar para nenhuma outra mulher e nenhuma outra coisa que não fosse ela, não tinha nenhum outro caminho a seguir.
Pobre Manoel, viciado em Soninha.