Cinco
Dia desses caminhando pela praia vi uma cena que nunca mais esquecerei, nada muito fantástico ou único, coisa muito simples e justamente aí que estava toda a beleza. Era fim de tarde na praia.
Haviam cinco pessoas e pareciam estar preparando um lual, os meninos juntavam uns galhos para montar uma fogueira enquanto as meninas erguiam cangas sobre a areia. Curioso, fiquei a observá-los.
Quando a noite começou a escurecer os olhos, acenderam a fogueira com certa dificuldade, os três meninos pareciam um tanto enrolados e receosos com o álcool e fósforo, o que levou a uma das moças a acendê-la.
Estavam acompanhados de um violão e o maior deles sentou-se primeiro, pegou o instrumento e pôs-se a dedilhar as cordas, de onde estava não conseguia ouvir, mas julguei se tratar apenas de um “ensaio”, um aquecimento para a longa noite que viria. A menor de todos se sentou ao lado deste e com atenção olhava para o violão, estava atenta.
Um casal composto pelo menorzinho entre os homens e a outra menina estava na água, aproveitando os últimos raios de sol, brincavam de jogar água um no outro. O quinto deles estava mais afastado, sentado na areia molhada, as vezes atingido pela maré, estava imóvel e fitava o horizonte.
Quando começou, quem estava isolado voltou ao grupo, quem estava na água voltou a areia, da mochila tiraram bebidas, não haviam copos, beberiam no gargalo mesmo. A musica começou mas eu não ouvia.
Interessante que nenhuma das canções foi cantada por inteiro, sempre havia uma interrupção que era seguida de risos altos (de uns mais alto que os de outros). E a medida que a bebida ia sendo destruída, o volume de suas vozes aumentava.
Aquele que se isolara mais cedo foi o primeiro a deitar, tirou da mochila um caderno já meio velho e começou a escrever, naquele momento pareceu entrar em um mundo próprio, uma espécie de autismo auto-imposto.
Fui embora, já era tarde, mas aquelas cinco figuras diferentes entre si se divertindo juntos vieram comigo, gravados na mente. Que tipo de sentimentos eu poderia traçar de cada um deles para todos os outros? O quão puro seriam? Amizade simplesmente, amor, companheirismo, lealdade, ciúme, raiva, porque pessoas sentem raiva, mesmo que uma raiva cheia de carinho. O que aquele menino escreveu e não leu?
Voltei pela manhã, bem cedo, e estavam todos lá. Quatro dormiam, exceto o rapaz que escrevera de madrugada e a menina que, mais cedo, tomara banho de mar, conversavam sentados lado a lado e percebia nitidamente a atenção com que ele a ouvia, tanto com os ouvidos quanto com os olhos, quando ela falava, porém, parecia se “esconder” no mar quando era sua vez de dizer.
Independente do que sentiam individualmente pro cada um ali, eram cinco amigos, cada um com sua historia, com seus problemas, seus fantasmas e seus outros amigos, tenho certeza que cada um dos cinco trouxe, em mente, alguém que não estava la.