Seu Salim, o sovina.
Lá vei Seu Salim, acordava cedo todas as manhãs, bem cedo, ia até a padaria comprava pão deixava em casa e ia para lojinha. Sua esposa acordava logo depois do almoço, ia ate a cozinha, comia três pães enquanto dizia: - Velho muquirana, nem para comprar mortadela. Logo acordava também a filha mais velha, que ia ate a lojinha pegava o faturamento da manhã inteira para ir ao salão de beleza. O filho mais novo passava antes de fechar para pegar o resto dos lucros, pois chegava de madrugada e acordava já de tardezinha. Seu Salim nem ia em casa para almoçar, pois sabia que o almoço não estava pronto e nem ficaria, comia um pão que pegava separado na padaria. chegava bem a noitinha em sua casa, enquanto tomava banho sua esposa dizia: -Velho pão-duro, está gastando água e luz, não tem comida na dispensa, seus filhos não têm dinheiro para pagar a escola, você não paga uma empregada para me ajudar, fica naquela lojinha até tarde fazendo o quê? Então, terminava seu banho, vestia seu pijama todo surrado, dava para sua esposa algumas moedas que conseguia escapar, outras escondia para comprar o pão de manhã. No outro dia a rotina se repetia, e no outro, e no outro, até que um dia sem dinheiro para pagar os fornecedores, a lojinha faliu e Seu Salim morreu. A família no enterro se lamentava - O que será de nós, o que será de nós, tanto fizemos por ele que nos deixou assim, desamparados. Contudo, a vizinhança, a antiga freguesia e os que por lá passavam, diziam entre si: -Velho sovina, morreu e deixou sua pobre família sem nada.