A fama à precede

O calor estava sufocante, o sol brilhava branco numa intensidade de pico de verão. Apressado e apreensivo, andava veloz preocupado com o filho que tinha a pouco deixado no hospital com a mãe. O suor escorria-lhe da fronte irritando os olhos claros que mal mantinha-se abertos por causa da luz do sol.

Ao entrar no prédio viu a enorme fila formada no saguão a espera do elevador que ainda mostrava-se distante do térreo, optou por subir de escadas, seriam apenas alguns poucos lances até o andar apropriado. Para sua surpresa logo a frente ia a sua superior, caminhando lentamente e com expressão de poucas amizades, com passos curtos, contidos, mas parecia que entrava num palácio. Uma pessoa com bastante imaginação facilmente conseguiria ver um vasto tapete vermelho felpudo sob os pés de alguém que mais parecia um grande general vitorioso de guerra ou imperador. Um olhar mais imaginativo e atencioso ainda mais, poderia muito bem achar que se tratava de um grande ditador. Pensou em voltar, mas foi visto por ela que de soslaio olhou para ele, o que o impediu da estratégia de escape.

– Bom dia. – disse ele.

Ela quase que ignorou a saudação por completo, apenas esbouçou uma expressão que indicava insatisfação. Aquilo provocou-lhe um ingente desconforto. Precisava agir rápido. Afinal havia um porquê justificável no seu atraso. Achou melhor prestar-lhe satisfação, antes de ser abertamente chamado atenção na frente dos companheiros de trabalho. Sabia de sua fama e até já presenciara a ira da sua chefe sendo despejada em alguns companheiros.

- Deixe-me logo informar-lhe o porquê do meu atraso. – Começou ele, seguindo-a logo atrás. – Normalmente sou eu quem levo o meu bebê, hoje ele está com seis meses, na casa da tia de minha esposa. Minha esposa saí cedo para o trabalho e fica comigo a responsabilidade. Então percebi antes de conduzi-lo, que ele estava com bastante febre, constatei com o termômetro. Decidi por levá-lo na emergência pediátrica por precaução.

De lá liguei para minha esposa para ir para o hospital e por isso a demora em minha chegada ao trabalho. Precisei esperá-la.

- Ah, Tudo bem. por que tanta explicação? – indaga sua superior como se não fizesse questão daquilo.

- Achei melhor comunicá-la, visto que percebi um olhar de indagação e indignação de sua parte por causa da hora. Além do mais, sabe, há um ditado bastante repetido e que lhe fora atribuído.

- e é? qual?

- “A fama à precede”. Perdoe-me, mas acho que até realmente procede. – Ele achou que seria uma boa hora para afirmar isso.

- Sério? não sabia que havia um ditado atribuido a minha pessoa? o que dizem?

- Ah, bem, perdoe-me … – Ele hesitou – São apenas coisas ditas e algumas vezes constatadas.

- Gostaria muito de saber. – Ela parou e se virou bruscamente.

- Seu jeito rígido. A maneira explicita de extravasar a ira sem pensar nas consequências provocadas nos outros por coisas que na maioria das vezes são insignificantes e desnecessárias.

- Não havia percebido. – Ela fitava-lhe o olhar.

- Claro. Apenas quem sofre e vê sente. A fama à precede. me faz sentido.

- Acho que preciso tomar uma atitude. não acha?

- Sim. Claro chefe. – Pensou ele que a conversa resultaria numa melhoria na maneira dela em lidar com os subordinados.

- Ainda bem que concorda comigo. Também tenho um ditado que lhe cairia muito bem. “Em boca fechada não entra mosquito”. Você está demitido. Afinal é preciso faz jus a fama não é mesmo?

- Hã? Como? – Ele postou estupefato.

É isso mesmo que você ouviu, você está demitido. – Ela fora contundente.

- Pois é, como diz o outro ditado: “Quem muito se abaixa, mostra os fundilhos”. – Falou indignado com o ocorrido.

- Aprenda “querido”, “O galho sempre quebra do lado mais fraco”. – Disse a superiora dando-lhes as costas e seguindo em frente deixando ele para pensar nos ditados ditos.