Assim, meio de canto...
Um dia abafado, monótono. Como em todo fim de manhã de verão, sem renovações, só a tarde que cai em cruel desespero. Estávamos ali, lado a lado e o sol invadia a sala através das compridas janelas de vidro. Absolutamente nada acontecia. Nada. E então eu pensei que teria sido melhor nem ter acordado. Mas estávamos ali, sob a sombra das folhas que estampavam as paredes. Não falamos sobre nada. Nem de amores frustrantes nem sobre a monotonia daquele inicio de tarde. Nada. Eu fiquei apenas a observar o sol maltratar sua pele clara e te fazer apertar os olhos para poder contemplar o céu, de forma inerte e passiva. E então eu te vi, assim, por completo, sob a iluminação esplendorosa do sol. Cruel. Então você sorriu um sorrisinho bobo, meio de canto, que acabou por me fascinar... Eu quis registrar aquele sorriso sonolento e descontraído, de certa forma banal, em uma pintura ou fotografia, tanto faz. Não houve a possibilidade, mas o trago comigo. Num lugar onde sempre poderei tê-lo, contemplá-lo. E foi ali que eu tive a certeza de que agora é inevitável. Que agora você se tornou algo...