" BATER O BARRO "

" BATER O BARRO " ERA UMA EXPRESSÃO QUE SE DIZIA LÁ

LÁ NAS BANDAS DA ALTA SOROCABANA, DIVISA COM MATO GROSSO

DO SUL, NAS CERCANIAS DA LOCALIDADE DE CRUZEIRO , MUNICÍPIO

DE ÁLVARES MACHADO-SP . NÓS, DO SUL DO PARANÁ, MOCINHOS DA

CIDADE , ESTÁVAMOS RADICADOS NA ZONA RURAL PAULISTA ,E NÃO

CONHECÍAMOS A EXPRESSSÃO USADA PELO POVO DE LÁ DE QUE "BA-

TER O BARRO" SIGNIFICAVA CASAR-SE, PORQUE O NOVO CASAL

IRIA MORAR EM CASA, FEITA DE COQUEIRO, REVESTIDA DE BARRO

BATIDO .

QUANDO O LAVRADOR IA CASAR-SE, ERGUIA SEU RANCHO

COM LASCAS DE COQUEIRO A PIQUE, TRANSPASSANDO, HORIZON -

TALMENTE , VARAS AMARRADAS COM CIPÓS, E, NOS INTERVALOS

"BATIA O BARRO" COMO ARGAMASSA, FECHANDO AS FRESTAS, E

DANDO Á PAREDE A APARÊNCIA DE MATERIAL. ESSA MASSA ERA

FEITA COM BARRO ESCOLHIDO EM BEIRAIS DE RIACHOS, EM MINAS

DESSE ELEMENTO E, NO NOSSO CASO , NAS BARRANCAS VERMELHAS

DO RIO "CAIÇARA" . MISTURAVAM AO BARRO O ESTERCO DE GADO ,

DANDO-LHE MAIS CONSISTÊNCIA . LÁ NO SERTÃO, NÃO HAVIA CI-

MENTO, NEM CAL, NEM AREIA PENEIRADA PARA RECEITA DE ARGA -

MASSA . ERA BARRO E ESTERCO MESMO, QUE, QUANDO SECAVA,FI-

CAVA DURO COMO LAJE.

O NOIVO FAZIA SUA PRÓPRIA VIVENDA, ESCOLHIA O CO -

QUEIRO, DERRRUBAVA-O, LASCAVA, LIMPAVA FELPAS, PUNHA AS

LASCAS A PIQUE , ENVARAVA E "BATIA O BARRO, JOGANDO COM AS

PRÓPRIAS MÃOS A MASSA ENTRE AS VARAS AMARRADAS. DEPOIS

COBRIA O RANCHO COM TABUINHAS DE CEDRO, LASCADAS, QUE ELE

PREVIAMENTE PREPARAVA. QUANDO AS PAREDES SECAVAM, OS MAIS

CAPRICHOSOS DAVAM-LHE UMA MÃO DE TINTA COLORIDA , A MAIO-

RIA DEIXAVA , MESMO , NA COR NATURAL.

TRÊS PEÕES, CERTA VEZ, "BATERAM O BARRO" , AO MES-

MO TEMPO, CASANDO-SE COM MOÇAS, IRMÃS TRIGÊMEAS . UM ERA

BAIANO, OUTRO UM MARANHENSE E UM CEARENSE, QUE ERGUERAM

OS SEUS RANCHOS , NO SÍTIO DO PRÓPRIO SOGRO, O PATRÃO, UM

NORTISTA PERNAMBUCANO . OS NOMES DOS NOIVOS NÃO ME LEM-

BRO MAIS, MAS PODRIAM SER TODOS RAIMUNDOS , NOME COMUM

NA REGIÃO .

AS NOIVAS SE CHAMAVAM MARIA APARECIDA, MARIA DA

CONCEIÇÃO E MARIA DE NAZARÉ - NOMES DADOS POR PROMESSA -

CUMPRIDA Á NOSSA SENHORA DO BOM PARTO, QUANDO ELAS NAS-

CERAM DE PARTO DIFÍCIL, MAS COM SUCESSO E COM A AJUDA DA

SANTA , LÁ MESMO, NO SÍTIO DO PAI, TRAZIDaS AO MUNDO PELAS

MÃOS DA PARTEIRA MINEIRA, NHÁ LURDE.

QUANDO O DINHEIRO ENTRAVA, ORIUNDO DAS SAFRAS,

NO MES JUNINO, HAVIA MUITO CASAMENTO COM GRANDES FESTE -

JOS . PARA O TRIPLO CONSÓRCIO VIERAM MORADORES DA REGIAO,

DESDE O ALTO PIRAPÓ, PIRAPÓZINHO , 5A. ESCOLA E CRUZEIRO,QUE

FORAM SE CHEGANDO A CAVALO, OU EM CARROÇÕES DE TRANSPOR-

TE DE ALGODÃO, PUXADO POR SETE MUARES, PREVIAMENTE TREINA-

DOS PARA SULCAREM OS AREAIS DAS ESTRADAS RÚSTICAS, COMO

TAMBÉM NA TRAVESSIA PELA ESTRADA DA "BOIADEIRA", POR ONDE

PASSAVAM AS MANADAS DE REZES , DE MATO GROSSO PARA ABATE

EM SÃO PAULO . PARA NÓS, EU MAIS DOIS IRMÃOS , NOS DSLOCAR-

MOS DO NOSSO SÍTIO ATÉ A FESTA DO TRÍPLICE CASÓRIO NÃO ERA

MUITO LONGE E FOMOS Á PÉ,PASSANDO PELO VILAREJO DO CRUZEI-

RO, ATRAVESSANDO A ESTRADA DA "BOIADEIRA", CRUZANDO POR -

DENTRO DO SÍTIO DO AMIGO EXPEDITO, E CHEGANDO ÁS MARGENS

DO RIO SANTO ANASTÁCIO, QUE ERA ULTRAPASSADO POR CIMA, -

ATRAVÉS DE UMA PINGUELA ( ARVORE DERRUBADA SOBRE O RIO E

QUE SERVIA DE PONTE PARA PEDESTRES ) .

NO LOCAL, ARMARAM UMA IMENSA BARRACA SOBRE O PÁ-

TIO ENORME, APOIADA POR ESTACAS E PELO TELHADO DA CASA -

GRANDE .ESTE SALÃO IMPROVISADO FOI ENFEITADO COM PAPÉL DE

SEDA COLORIDO E ILUMINADO POR LAMPEÕES DE MANGA, Á QUE-

ROSENE , E ALÍ O JANTAR FOI SERVIDO AOS CONVIVAS, UM CHUR-

RASCO DE DOIS BOIS QUE FORAM ABATIDOS ESPECIALMENTE PARA

A FESTA , MAS FAROFA DE FARINHA DE MANDIOCA DE PRODUÇÃO -

PRÓPRIA , SUCULENTA SALADA DE CEBOLAS, COM TOMATES E ALFA-

CES ,E AINDA ( INCRIVEL ) MACARRONADA FEITA EM GRANDES TA -

CHOS FUMEGANTES . DE SOBREMESA , DOCE DE COCO E AINDA CA-

FÉ COM BOLO DAS NOIVAS . A BEBIDA ERA BATIDA DE LIMÃO GALE-

GO DO POMAR DO PRÓPRIO SÍTIO E A PINGA DO ALAMBIQUE DO -

COMPADRE GUSMÃO . HAVIA REFRIGERANTES E SUCOS DE UVA ,

LARANJA E MARACUJÁ, DE LÁ MESMO, Á VONTADE PARA AS MULHE-

RES E A CRIANÇADA .

APÓS O JANTAR, AS MESAS DE TÁBUAS E OS BANCOS DE VA-

RAS E TRONCOS FORAM ARREDADOS E OS TRÊS CASAIS DE NOI -

VOS DERAM O INÍCIO NAS DANÇAS, COM A VALSA "SAUDADES DO

MATÃO", SEGUIDOS DOS PAIS, PADRINHOS E CONVIDADOS , E FOI

BONITO DE SE VER AS TRÊS NOIVAS ENVOLTAS NAS NUVENS DE

VÉUS, Á LUZ MORTIÇA DOS LAMPEÕES, NOS BRAÇOS DE SEUS DO-

NOS - "OS CABRA-MACHOS" .

E O POVÃO CAIU NOS XAXADOS, BAIÕES, VALSINHAS SER-

TANEJAS E NAS CIRANDAS, AO SOM DOS MÚSICOS : UM SANFONEI-

RO QUE COMANDAVA OS DEMAIS, DOIS VIOLEIROS, UM PANDEIRIS-

TA E TOCADOR DE TRIÂNGULO .

OS NOIVOS HAVIAM SEGUIDO CEDO Á CIDADE PARA SE

CASAREM , NO CARTÓRIO E NA IGREJA, E TANTO ELES COMO ELAS

FORAM EM TRAJES COMUNS E VOLTARAM Á CARÁTER, VESTIDOS DE

NOIVOS. ELES A CAVALO E ELAS NS GARUPAS, COM SEUS VÉUS ES-

VOAÇANTES . ERA COSTUME ESSE RETORNO PELAS ESTRADAS . HA-

VIA ATÉ UMA FOGUEIRA CREPITANDO Á ESPERÁ-LOS NA CHEGADA.

LA PELAS TANTAS HORAS, ALTA MADRUGADA, O TEMPO

COMEÇOU A ESQUENTAR E A RAPAZIADA ERA AMAIORIA SOBRE A

MINORIA DAS MOÇAS, PORQUE UMAS JÁ IAM SE "AJEITANDO" E, -

COMPROMETIDAS, DANÇAVAM SEM REVEZAMENTO DE CASAIS.

"TIÃO", UM ALAGOANO VALENTE E CONQUISTADOR FICOU NO "HORA

VEJA", ESPERANDO UMA OPORTUNIDADE , BEBERICANDO BATIDI -

DINHAS, SONDANDO A MOÇARADA, SÓ QUIETÃO ... ROLA PINGA ,

ROLA PROSA, ROLA TRUCO, ROLA SANFONA, ROLA AINDA UM CHUR-

RASCO REQUENTADO, COM MACARRONADA JÁ GRUDENTA, QUANDO

OS ÂNIMOS CHEGARAM AO ÁPICE. DE REPENTE, NO MEIO DA " ASA

BRANCA ", QUE LEVANTAVA POEIRA DO CHÃO , A SANFONA PAROU.

FOI RASGADA AO MEIO PELA " PEIXEIRA"DO ALAGOANO "TIÃO",EXAL-

TADO PORQUE RECEBERA "TÁBUA" DE UMA DONZELA.

AÍ O PÁU COMEU SOLTO E FOI AQUELA CORRERIA DA MU-

LHERADA, CRIANÇAS, VELHOS E ATÉ MUITOS "MACHÕES" PARA DEN-

TRO DO POMAR DE LARANJEIRAS . A RAPAZIADA MAIS VALENTE EN-

TROU NA DANÇA DAS "PEIXEIRAS" , ENQUANTO QUE SEGURAVA GEN-

TE E TENTAVA A PAZ, A TURMA DO " DEIXA DISSO " . RESULTADO

FINAL : ENTRE MUITOS FERIDOS , ESTAVAM OS TRÊS RAIMUNDOS ,

LEVEMENTE MACHUCADOS, FELIZMENTE. O DA CEIÇÃO COM UM OLHO

PRETO,E O DA NAZARÉ, FICOU MANCANDO. O DA CIDA FOI O PIOR ,

TEVE UM CORTE NA MÃO, ATINGIDO POR UMA "PEIXEIRA". A CIDA ,

QUANDO VIU SEU NOIVO ENSAGUENTADO DESMAIOU E FOI LEVADA

PARA DENTRO DA CASA GRANDE. MAS, MAIS GRAVE, ACONTECEU

COM "TIÃO", QUE FOI LEVADO DE CARROÇÃO PARA A CIDADE, POR-

QUE ABRIRAM-LHE PROFUNDO CORTE NO VENTRE. ENQUANTO O

CARROÇÃO PASSAVA A PORTEIRA , SEU FULGÊNCIO, CORTANDO FU-

MO PARA POR NO PITO, COMENTOU, COM SABEDORIA DE VELHO :

- "NÃO SEI SE ESSE AÍ VAI CHEGAR UM DIA A "BATER BARRO" , ESTÁ

MAIS PARA "BATER AS BOTAS" ...

EPÍLOGO : oS GALOS ESTAVAM CANTANDO, A AURORA JÁ

ESTAVA RAIANDO, O DIA DO SERTÃO AMANHECENDO , E HAVIA GEN-

TE BEBENDO,E O CAFÉ JÁ ESTAVA SENDO SERVIDO, QUANDO SURGIU

NA PORTA DA FRENTE, COM SEU SORRISO JA ENVELHECIDO , DNA.

LURDE, SEGURANDO UM RECÉM,NASCIDO E DIZENDO ; - É DA CIDA,

É MAIS UM "CABRA MACHO" PARA "BATER BARRO" ALGUM DIA ...

FIM

-O-

ARNOLDO WIECHETECK
Enviado por ARNOLDO WIECHETECK em 08/02/2012
Reeditado em 08/02/2012
Código do texto: T3487133