ANÔNIMO -*
Coloquei fim! Estou muito cansado desse anônimato. As vezes, não entendo como posso ter ficado excluido a margem de tudo e todos, até minha mulher e meus filhos me olhavam de soslaio.
Agora estou em silêncio e torturando-me, por esses cantos ora altos ou baixos.
Uma cômada teria muito mais valor e até mesmo receberia um carinho, mesmo furtivo, ou uma lagrima pousaria sobre ela e seria recolhida, com esmero por um lenço macio e perfumado, para que ela não tirasse o brilho de seu verniz.Uma cômoda! Relez movél.
Talvez minha morte numa dessas estradas famosas, daria uma manchete em algum jornal locaL, mas isso iria durar um dia ou uma mera linha num jornaleco sensacionalista qualquer, e com muita sorte uma foto.
Creio que até mesmo um acidente, épico, onde haveria um engavetamento com dezenas de onibus, caminhões, carros faria mais sucesso, ainda mais se tivesse meu corpo ensaguentado no meio do asfalto, mas pensando bem, poderia ser colocado ao lado de dezenas ou até emcoberto por um de uma gravida menosprezando o meu.
Motos zigue-zagueando matam espertacurlarmente transeuntes incautos ou seus condutores, mas em diversos deles, apesar de espetaculares, não viram manchetes.
Sair do anonimato de qualquer forma. Talvez um acidente com um avião caindo diretamente sobre o vaticano, na hora da missa de domingo seria fantástico, milhares de pessoas rezando e eu ali a bordo de um desses jatos gigantescos. Essa idéia é otima!
Haveria manchetes pelo mundo afora, mas seria improvavél a notoriedade, por que cabem centenas de passageiros, e eu perderia a exclusividade e não conseguiria muita coisa, mesmo localizado em meio aos detroços.
Talvez se ele caisse sobre a casa branca faria muito mais sucesso. Deixaria em pânico todo mundo, mas com certeza seria aclamado em muitos países.
Não iria sobrar nada de mim alem de meu nome na lista de passageiros, e se estiver outra gravída com criança de colo, seria só mais um.
E depois, tem outra, poderia ser tomado por um terrorista, e não é exatamente isso que quero. Afinal emporcaria a memória de toda a minha família apolitíca por tradição, muitos não iriam nem no enterro de meus restos mortais, chorariam em silêncio a minha morte com medo de comprometimento. Me enterrariam sinistramente, sem lapíde, para evitar malucos de plantão, adoradores irracíveis ou coléricos, mas despresiveis por sua natureza.
Uma morte como saida de uma vida insignificante. Estou perdido ao me ver ser transformado em pó, quem sabe da proxima vez eu dê mais valor, e não tire a minha vida, para depois ficar na eternidade pensando o quão valiosa ela era.
29/04/10