Mãe Diabética
Sempre surgiam crises de glicemia , para cima ou para baixo, quando a casa se enchia de gente. Comida abundante, guloseimas traidoras do perfil dos escravos do vício de comer.
Mães controladoras, manipuladoras como todas as mães, seguem essa bula. Para chamarem atenção para si, comem mais do que podem e o suficiente para invocar uma descompensação. Dose calculada para não morrer.
Assim era no casarão de Gertrudes, gorda um pouco baixa e cabelos de montinho no cocuruto. Quase uma barrica de saia. Tinha cortinas de chita florida. Um sebo na altura da cintura. Argh!
Trude era de arrepiar a paciência de um relógio quebrado. Comia uns chocolates e pimba! Noras e netos, filhos brigando por falta de zelo dos que moravam com ela. Por fim ainda incomodava seu médico nos finais de semana. Pobre pescador de represa. Nem um lambari pro café de meio dia.
Encomendaram a viúva pro beleléu, casa de repouso assim chamada. Trudinha ficou moderna. Cadeira elétrica e tal. Nunca mais chocolate, nunca mais o centro das atenções ... Viajou do mesmo jeito... Linda, num horizonte de madeira e pano roxo, tábua de flores a escorar a parafina do lume quadrangular de uma noite.