AS "PERIGETS"
AS “PERIGETS”
Celestina estava molhando a rua com a mangueira aberta há alguns segundos, quando a menina de doze anos que mora na esquina passou e perguntou em voz bem alta? – Tia você viu se as perigets já voltaram lá dos apartamentos. A senhora continuou molhando a rua, para afastar a poeira, e fingiu que não escutou. A Camilinha perguntou ? – Tia, você não sabe o que é “periget”? A senhora respondeu com a cabeça afirmativamente, e a menina continuou com a língua destravada: - Elas são umas “perigets” vivem por aí, chegam em casa tarde, etc. etc. etc.
Celestina com sua sabedoria doce respondeu: - Se você trata suas coleguinhas assim, o que será que elas não falam de você também? Eu sei a que horas elas chegam em casa, pois lá para uma da manhã quando estou começando a dormir, ouço os gritos das duas aqui da frente, a Daiane de oito, e a Cíntia de dez, elas berram tanto para a mãe vir abrir o portão que acorda até defunto. Eu sei de muitas outras coisas, inclusive que você não sabe nem lavar sua calcinha. A Camilinha ficou sem graça, e queria cortar a conversa, mas a Celestina ainda deu uma dica: - Vê se aprende a lavar sua roupinha, uma louçinha, e outras coisas. Não tem nada para fazer em casa não? – A Camilinha safadinha respondeu: - Tem máquina para lavar a roupa, lavar a louça, e isso é serviço para adulto. Sabe que é lei criança não pode trabalhar. Celestina não falou mais nada, continuou com sua mangueira molhando a rua e pensando nos tempos, que criança era criança, e ajudar nos serviços caseiros era um pequeno aprendizado para a vida futura.
Meses depois a Camilinha passava cada dia com o vestido mais curto, e a Cíntia de dez não sobreviveu a um aborto forçado levada pela mãe “periget” . A Daiane de oito foi pega por uma vizinha do fim da rua fazendo sexo oral com o marido da Damiana, o Severino de oitenta e tantos anos, para ganhar uns trocados e gastar num celular novo.