Laura, autista não-verbal, 12 anos
Autista, sim. Arteira também!
No pátio de nossa casa tinha uma escada que dava para o terraço que por sua vez, encostava-se ao telhado dos vizinhos. Mal a Laura aprendeu a caminhar aquela escada passou a ser seu principal objetivo. As crianças sentem atração por escadas porque elas representam um desafio. E aceitar desafios é inerente ao ser humano. Não fosse isso ainda moraríamos nas cavernas com medo do novo. Depois de ver a Laura escalar dois degraus, concluímos que era urgente um portãozinho na ponta daquela escada. Porém o tempo foi passando e nada do portão porque queríamos fazer junto o corrimão bem moderno pra não enfear o pátio do lado esquerdo que também não tinha. Problemas financeiros. Bem, cuidávamos sempre para que ela nunca estivesse sozinha no pátio e ela nunca estava até por causa da pouca idade.
Laura estava com dois anos quando aconteceu. Estávamos sozinhas em casa. Eu preparava o almoço e observava pela janela Laura sentada no chão do pátio brincando distraída. Nada indicava que sairia do brinquedo naquele momento. Mas criança é imprevisível. A campainha da porta tocou e fui atender. Era o carteiro. Entregou-me a correspondência e uma delas precisava da minha assinatura. Ele então me pediu uma caneta porque alguém ficara com a dele. Fui até a sala peguei uma caneta, assinei e levei tudo para o carteiro. Ele destacou o comprovante e entregou a correspondência. Fechei a porta e voltei para a pia da cozinha. Olhei para o pátio. Ela não estava lá. Entrei na sala da churrasqueira que ficava em frente, sala do som, banheiro. Nada. Sempre chamando: “Laura! Laura!”. Entrei na casa principal e examinei todos os cômodos. Nada! Aflita corri e subi as escadas. Olhei tudo. Os telhados das casas, nada! Desci correndo e olhei tudo novamente. Até embaixo das camas. Ela não estava dentro de casa. Assustada concluí que ela não estava em lugar algum da casa! Suava por todos os poros. Não havia a menor hipótese de ela ter saído da casa pela porta. Mas, então, onde ela estava? Foi quando ouvi umas vozes na rua junto a voz da Laura. Incrédula abri a porta e ela estava no colo de uma mulher que por sua vez suava também! Sem entender nada, segurei minha filha no colo e a mulher, ofegante contou: “Eu moro na rua de trás. Estava preparando o almoço quando meu filho gritou para que eu visse algo. Saí no pátio e vi sua filha em cima do telhado da minha casa.”
“Colocamos uma escada e por mais que a chamássemos ela não saía do lugar. Então nosso filho subiu e tentou chamá-la e talvez por ser ele uma criança, ela caminhou até ele e conseguimos segurá-la e tira-la do telhado. Eu não sabia exatamente onde era sua casa, mas ela me ensinou.”
Ainda muito assustada, segurava Laura sem acreditar que tudo havia acontecido em tão poucos minutos. A escada era bem alta e ela tão pequena! Como ela subiu tão rápido?
Agradeci aquele anjo salvador que sorria suada e ofegante e fiquei olhando enquanto ela se afastava apressada devido ao horário do almoço. Meu Deus! Subestimei minha filha e a coloquei em perigo.
Dia seguinte um feio portãozinho de madeira feito às pressas, porém seguro e forte me encarava logo após o terceiro degrau da escada.
Autista, sim. Arteira também!
No pátio de nossa casa tinha uma escada que dava para o terraço que por sua vez, encostava-se ao telhado dos vizinhos. Mal a Laura aprendeu a caminhar aquela escada passou a ser seu principal objetivo. As crianças sentem atração por escadas porque elas representam um desafio. E aceitar desafios é inerente ao ser humano. Não fosse isso ainda moraríamos nas cavernas com medo do novo. Depois de ver a Laura escalar dois degraus, concluímos que era urgente um portãozinho na ponta daquela escada. Porém o tempo foi passando e nada do portão porque queríamos fazer junto o corrimão bem moderno pra não enfear o pátio do lado esquerdo que também não tinha. Problemas financeiros. Bem, cuidávamos sempre para que ela nunca estivesse sozinha no pátio e ela nunca estava até por causa da pouca idade.
Laura estava com dois anos quando aconteceu. Estávamos sozinhas em casa. Eu preparava o almoço e observava pela janela Laura sentada no chão do pátio brincando distraída. Nada indicava que sairia do brinquedo naquele momento. Mas criança é imprevisível. A campainha da porta tocou e fui atender. Era o carteiro. Entregou-me a correspondência e uma delas precisava da minha assinatura. Ele então me pediu uma caneta porque alguém ficara com a dele. Fui até a sala peguei uma caneta, assinei e levei tudo para o carteiro. Ele destacou o comprovante e entregou a correspondência. Fechei a porta e voltei para a pia da cozinha. Olhei para o pátio. Ela não estava lá. Entrei na sala da churrasqueira que ficava em frente, sala do som, banheiro. Nada. Sempre chamando: “Laura! Laura!”. Entrei na casa principal e examinei todos os cômodos. Nada! Aflita corri e subi as escadas. Olhei tudo. Os telhados das casas, nada! Desci correndo e olhei tudo novamente. Até embaixo das camas. Ela não estava dentro de casa. Assustada concluí que ela não estava em lugar algum da casa! Suava por todos os poros. Não havia a menor hipótese de ela ter saído da casa pela porta. Mas, então, onde ela estava? Foi quando ouvi umas vozes na rua junto a voz da Laura. Incrédula abri a porta e ela estava no colo de uma mulher que por sua vez suava também! Sem entender nada, segurei minha filha no colo e a mulher, ofegante contou: “Eu moro na rua de trás. Estava preparando o almoço quando meu filho gritou para que eu visse algo. Saí no pátio e vi sua filha em cima do telhado da minha casa.”
“Colocamos uma escada e por mais que a chamássemos ela não saía do lugar. Então nosso filho subiu e tentou chamá-la e talvez por ser ele uma criança, ela caminhou até ele e conseguimos segurá-la e tira-la do telhado. Eu não sabia exatamente onde era sua casa, mas ela me ensinou.”
Ainda muito assustada, segurava Laura sem acreditar que tudo havia acontecido em tão poucos minutos. A escada era bem alta e ela tão pequena! Como ela subiu tão rápido?
Agradeci aquele anjo salvador que sorria suada e ofegante e fiquei olhando enquanto ela se afastava apressada devido ao horário do almoço. Meu Deus! Subestimei minha filha e a coloquei em perigo.
Dia seguinte um feio portãozinho de madeira feito às pressas, porém seguro e forte me encarava logo após o terceiro degrau da escada.